quinta-feira, 2 de outubro de 2008

DIANA - Cenas de um colégio interno

Noite fria e sem estrelas, noite de inverno.

A janela do dormitório aberta e a brisa suave trazendo Diana em seu bojo

repetidas vezes, embalando sonos de justos adolescentes, emulando saudades abstratas.

"I'm so young and you are so old

This my darling, I've been told"

Tantos anos e Paul Anka ainda ecoa naqueles ouvidos noturnos!

Distante, mas ainda nítido e focado em todos os seus acordes!

"Only you can take my passion

Only you can tear it apart"

O solo de pistões e trompetes apaixonando e rasgando a alma pelo avesso,

ao som da irradiadora do bairro.

Intra-muros, corações a palpitar.

"You and I will be as free

As the birds up in the tree"

As árvores permaneciam mudas no pátio silencioso.

A janela, apenas um retângulo negro de nada.

E a vontade onírica de por ela voar, alcançando promessas de liberdade.

"When you hold me in your loving arms

I can feel you givin'all your charms".

Ouvíamos uma figura sonora, palavra abstrata, quase mágica: Diana.

Escutávamos silenciosos, dormíamos (ou fingíamos dormir) imaginando Diana,

deusa abstrata, cantada em loas repetidas vezes,

a nos envolver com seu manto feminino,imagem feminina,

mulher arquetipal, a entrar com a brisa, diáfana,sonora e esvoaçante e,

dormitório a dentro, levantando suavemente sexos e lençóis,

fazendo esboçar sorrisos de aconchego ou verter lágrimas furtivas de saudade.

"Thrills I get when you hold me close

Oh, my darling, you are the most"

O som aumenta e diminui de intensidade com o vento; de repente, parece mudar de direção: Diana a navegar pela rosa dos ventos numa embarcação qualquer da Praia Formosa.

"I love you and you love me

Oh, Diana, can't you see?"

A sensação de amor ao amor. Indefinido, impreciso, não esboçado;

adolescente mistério, amor a todos os amores, paterno, materno e fraternal.

E a saudade de casa se transformando em aperto na garganta.

"Oh, my darling, oh! my lover

Tell me that there is no other"

Cenas do bairro extramuros apenas mentalizadas.

Algumas vezes Diana era oferecida por um alguém a outro alguém,

como em um sacrifício estranho, misterioso sacrifício de iniciados!

"I love you with all my heart

And I hope you'll never part"

E Diana jamais partiu; ficou conosco todo esse tempo!

Sacerdotisa e diva de um ritual inolvidável. Cenas de um colégio

interno em dourados anos. Quase nada e tudo.

Religião sonora a marcar ex-noviços como monges, para o resto de suas vidas,

continuando a cantar "Diana" como uma oração noturna,

uma loa subliminar e persistente.

"I don't care just what they say

Cause forever I will pray"

"Oh,please,stay by me Diana..."

Não importa o que digam, ela vai estar conosco, sempre que

rezarmos sua canção; e isso para sempre o faremos.

E se alguma noite ao deitar ligares o rádio e uma mulher adentrar cavalgando a brisa, é ela; deixa-te conquistar para a seita.

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