segunda-feira, 27 de junho de 2011

Espectros

















Eu tive medo daquela cidade
Que era só minha.
De minha tarde
onde o rio era o caminho,
a pedra: a ilha
e eu, seu rei.

Medo de passar pelo prado
E ver no céu, a dançar,
O espectro das pipas.

Medo do rastro fundo da bicicleta
A pisar nas flores dos anos,
De abrir o portão e ouvir o grito
Mamãe, cheguei.

Subir a escada
E topar com a irmã pequena
entretida com bonecas.

De entrar no quarto
E ver no guarda roupa
a roupa de pirata
Dançar a espada sobre minha cabeça.

Medo da estante
Cheia de mistérios.
Medo do porão
cheio de ancestrais.
Medo da cozinha
E seu fogão a lenha.

Atravessar o quintal
E destruir o equilíbrio mágico
Das fantasias no varal.

Subir ao disco da caixa dágua
E não ser reconhecido
Pelo marciano amigo.

Medo de romper os tímpanos
Com sons mortos há séculos:
Coma, menino
Meus parabéns,
Prá dentro, agora,
Vem tomar banho,
Hora da escola,
Olha a merenda,
Hora do almoço,
Teu pai já vem...

________________
(winston – Julho de 1980)

sábado, 25 de junho de 2011

Meia noite em Paris

Mais um filme "cabeça" escrito e dirigido por Woody Allen. Mesmo em seus filmes europeus: "Matchpoint", "Vicky, Christine, Barcelona" e agora com "Midnight in Paris", Allen não abandona sua exploração psicológica de caracteres e seus focos individuais em personagens. Rodando filmes em cidades ícones - Londres, Barcelona e Paris - ele não os transforma em peças turísticas para a telona. Apenas dá rápidos cliques cênicos para o espectador se localizar.

Em "Vicky, Christina..." você quase não vê ou revê a cidade. Você sente através dos personagens a apaixonada e arrebatadora cultura catalã. "Matchpoint" é um retrato da fleuma e da hipocrisia britânica. 

E agora com "Meia noite em Paris" não espere conhecer ou reconhecer a cidade-luz. Se vai com essa intenção, desista, esperançado turista, você vai querer seu dinheiro de volta.
"Meia noite..." é o filme mais cabeça de Woody Allen e a cidade com seus pontos turísticos quase não aparece a não ser em clipes nos primeiros minutos iniciais ou em locações que são indicativos importantes para os personagens. Esse é um filme sobre a cultura de Paris e não sobre Paris; sua herança cultural, o que ela representa para a humanidade e o que ela pode fazer para mudar a visão das pessoas. É um mergulho intelectual no passado secular da milenar Lutécia Parisiorum, velha cidade-luz. 
Um passeio onde se misturam ao mesmo tempo, presente, passado e futuro em uma viagem surrealista!
Justamente isso que é o filme: um passeio surrealista-cultural em Paris, em cenários sombrios, ocres e chuvosos, como a pintura francesa renascentista, com direito a escárnio sobre turistas endinheirados e pedantes que supostamente aprenderam sobre Paris em livros ou guias turísticos mas não a vivem nem viveram, que aproveitam o dia em piscinas de hotel ou visitas ao Monte San Michel.

Não assista ao filme se você não sabe quem foram ou não conhece a obra de: Hemingway, Gertrud Stein, Luis Buñuel, Scott Fitzgerald, e T.S. Elliot, entre outros. Não gosta de Cole Porter ou não aprecia a pintura  de Degas, Matisse, Picasso, Dali e muitos outros. Eles estão lá e são personagens do filme.

Dá para perceber  no rosto, ao acender das luzes finais, a desilusão de alguns que foram para "rever Paris" ou "ver a Carla Bruni", a ex-modelo mulher de Sarcozy, presidente da França - ela reprenta (e mal) o papel de uma guia turística de museu, em duas rápidas aparições. (Jogada de marketing?).

Agora entendo porque Woody Allen se afastou dos Estados Unidos para escrever e rodar filmes na Europa: Hollywood hoje só produz "scripts" medíocres. Filmes de ação onde impera a abundância de tiros e explosões, comédias escrachadas sem o menor pudor, com direito a toneladas de palavras de baixo calão, comédias românticas melosas para moiçolas sensíveis, filmes de terror chapado, repeteco de filmes B antigos, filmes catástrofes onde só um casal de americanos escapa ao fim do mundo , remakes de suspenses de sucesso ou uma safra comercial de desenhos que exploram comercialmente a nova onda 3-D.

Allen está acima disso tudo. É um Cineasta com C maiúsculo. Sua identificação com o personagem principal do "Midnight..."  é clara - Owen Wilson - o mesmo de "Marley e eu" - (agora mostrando a que veio e o que faz um bom diretor com um ator medíocre). 
Pode-se dizer, sem medo de errar, que o personagem de Owen representa parte da história pessoal de Woody Allen: um escritor que foge de seu ambiente insípido e pouco inspirador  para auferir lições dos grandes mestres in loco.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

1984 – um casamento perfeito entre livro e música

Quem leu o livro de George Orwell, ou assistiu ao filme de mesmo nome baseado no livro, e ao mesmo tempo teve a ,oportunidade de comprar o CD/DVD de Rick Wakeman, “1984”, (não sei se continua esgotado no mercado!), se surpreenderá com a intensidade, emotividade e fidelidade com que Wakeman interpretou, através de sua música, teclado e orquestração, os personagens e caracteres do filme homônimo.

E se perguntará porque cargas dágua ele não foi convidado para fazer a trilha sonora original, que, por sinal, não tem nada a ver com o clima ditatorial de 1984 e do Grande Irmão, o Big Brother, o ditador que tudo vê.
As composições de Wakeman para o Big Brother, sim, tudo a ver: se você a escuta, revive o clima e sente os personagens de “1984”.

Antes de tudo uma coincidência: o livro de Orwell, publicado no final da 2ª. Guerra mundial, segundo alguns críticos literários, foi baseado na ditadura russa de Stalin, acreditando que em 1984, com o avanço da tecnologia, o Big Brother teria totais poderes em 1984. No Brasil, em 1984, ainda vivíamos o suspiro final da grande ditadura de 1964! Segundo outros, foi baseado em “The Iron Heel”, de Jack London (onde um movimento político chega ao poder em 1984) ou a “O Napoleão de Notting Hill”, de Chesterton, que se passa em 1984, ou ao poema "End of the Century 1984" ("Fim do Século, 1984") de sua primeira esposa, Eileen O'Shaughnessy. Anthony Burgess afirma, em seu romance “1985”, que Orwell, estando decepcionado com o começo da Guerra Fria, tinha a intenção de nomear o livro “1948”.

O  autor,  Eric Arthur Blair, que ficou mais conhecido por seu pseudônimo:  George Orwell, retrata o cotidiano de um regime político  repressivo. No livro, ele mostra como uma sociedade  coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. A história narrada é a de Winston Smith, representado no filme pelo ator inglês John Hurt, tendo como parceiro nada menos que Sir Richard Burton no papel de O´Brien. Winston é um homem com uma vida aparentemente insignificante, que recebe a tarefa de perpetuar o regime através da falsificação de documentos públicos e da literatura a fim de que o governo sempre esteja correto no que faz. Smith fica cada vez mais desiludido com sua existência miserável e assim começa uma rebelião contra o sistema. Sua principal forma de rebeldia é um amor proibido com a “companheira” Júlia.
O romance se tornou famoso por seu retrato da difusa fiscalização e controle de um determinado governo na vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. Desde sua publicação, muitos de seus termos e conceitos, como "Big Brother", "duplipensar" e "Novilíngua" entraram no vernáculo popular. A impressão que se tem é que o autor genialmente se referia a uma nova linguagem do futuro: a linguagem da internet e das redes sociais!
O termo "Orwelliano" surgiu para se referir a qualquer reminiscência do regime ficcional do livro. O romance é geralmente considerado como a obra magna de Blair e, desde sua publicação, é um dos mais lidos e imitados no planeta.


A leitura de "1984" inspirou dois holandeses,John de Mol e Joop van den Ende a fundar em 1994, uma empresa chamada "Endemol" derivando o nome da empresa dos sobrenomes dos fundadores, que vende projetos de programas para emissoras de TV, sendo um de seus maiores êxitos justamente o reality show "Big Brother", que ganhou diversas versões pelo mundo depois da original holandesa.


Segundo a enciclopédia virtual Wikipedia, no próprio ano de 1984 o livro de Orwell já havia sido traduzido para mais de 65 idiomas, mais do que qualquer outro romance de um único autor. O título, os termos, o idioma (Novilíngua) presentes no romance, assim como o sobrenome do autor viraram sinônimo para a perda de privacidade pessoal para a política de segurança nacional de um determinado Estado. 
O adjetivo "Orwelliano" tem muitas conotações. Pode se referir à ação totalitária, assim como às tentativas de um governo em controlar ou manipular a informação com o propósito de controlar, apaziguar ou até subjugar a população. "Orwelliano" também pode se referir à fala retorcida que diz o oposto do que realmente significa ou, mais especificamente, à propaganda governamental que dá nomes errados às coisas; no romance, o "Ministério da Paz" lida com a guerra e o "Ministério do Amor" tortura as pessoas. Desde a publicação do romance, o termo "orwelliano" tem, de fato, tornado-se uma espécie de bordão para qualquer tipo de excesso ou desonestidade governamental e, portanto, tem múltiplos significados e aplicações. A frase Big Brother is Watching You ("O Grande Irmão está te observando") denota especificamente uma vigilância invasiva frequente.

Ainda segundo a Wikipedia: “Apesar de ter sido banido e questionado em alguns países, o romance é, ao lado de “Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e Nós de Yevgeny Zamyatin, uma das mais famosas representações literárias de uma sociedade distópica. Em 2005, a revista Time listou o romance como uma das cem melhores obras de língua inglesa publicadas desde a década de 20.

Mas aonde quero chegar é ao seguinte: se você leu o livro ou  viu o filme, veja se consegue o CD ou DVD “1984” de Rick Wakeman. É imperdível como peça musical. A faixa “Overture” é perfeita, coisa de virtuose! “Julia´s song” nos remete a lirismo, cenas de amor puro e ao mesmo tempo tórrido. Mais bonita e emocionante na voz “rocinolesca” de Chaka Khan. Em “The room” tem-se a sensação de estar lá, sob as vistas do Big Brother, com a repressão batendo à sua porta. Quem viveu um amor proibido ou então sob o período negro de qualquer ditadura vai seguramente se emocionar. A composição “War games” é um libelo, em letra e música, contra a guerra.
Algumas curiosidades sobre o filme:
  • 1984 começou a ser filmado exatamente no dia que começava o diário do personagem "Winston" no livro de Orwell, dia 4 de abril de 1984.
  • A canção-tema do filme se chama “Sexcrime” e é interpretada pela dupla Eurythmics.
  • Foi o último filme de Richard Burton que faleceu logo ao término das filmagens e o filme lhe foi dedicado.
Enfim, eis um casamento perfeito: o livro/filme “1984” de Orwell e as músicas de  “1984” que Rick Wakeman, ex-tecladista do “Yes”,  compôs em 1981 em homenagem a Orwell. Pena que o diretor Michael Radford não o aproveitou como trilha!
Alguns links para clips do filme “1984” no YouTube:

Alguns links para clips do album “1984” de Wakeman:


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Darwin e a diferença de número entre os sexos

Porque há sempre mais mulheres que homens no planeta, apesar da taxa de nascimento favorecer o sexo masculino? 


Para cada 100 bebês do sexo feminino nascem 105 meninos!


Porque as mulheres vivem mais do que os homens?
A teoria evolutiva pode explicar a abundância desse sexo dito frágil...


Segundo Richard Dawkins em “O gen egoista”, os gens são “egoístas” porque a finalidade genética principal da vida é metafísica, isto é, reproduzir os próprios gens e gerar sua sobrevivência por todos os meios; essa mensagem está embutida no DNA de todos os seres, até dos vírus (que quando “percebem” que o hospedeiro não sobreviverá com sua carga, sofrem uma mutação mais branda!


Explico melhor: a mulher, como sabemos, é uma matriz de apenas 40 a 50 óvulos por vida e apenas 1 por mês; o homem por outro lado, com uma só ejaculação (e alguns com várias por dia...) , pode gerar entre 200 a 300 milhões de gametas a cada vez!


Por que a genética precisaria de tantos machos?
A natureza faz seu trabalho: elimina os excessos de disponibilidade masculina não só após o nascimento: meninos têm 50% de probabilidade a mais de morrer por problemas respiratórios enquanto são recém-nascidos, sendo a média mundial de mortalidade infantil como um todo, 22% maior nos meninos do que nas crianças do sexo feminino. Na adolescência e juventude, através de guerras, conflitos inter-pessoais, conflitos de gangues, agressividade natural, brigas, drogas, etc, a mortalidade é várias vezes maior para o sexo masculino nessa faixa etária.  


Para isso a natureza dotou os machos de um hormônio que gera agressividade, impulsividade, disputa e combate: a testosterona, que além de tudo ainda afeta o sistema imunitário deixando os machos mais vulneráveis a doenças. Ainda por cima esse hormônio se encarrega de livrar a natureza de espermatozóides velhos provocando enfartes fulminantes em homens da meia idade à velhice.


O cientista Schwartzman tem razão: biologicamente  falando elas é que são fortes... e uma constatação é fácil de comprovar - existem mais de 10 mulheres centenárias para cada Oscar Niemeyer...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Parêntese para Nelson Rodrigues

O gênio é um vencido e um miserando. Atualmente só os imbecis decidem, eles fazem os costumes, as leis, a guerra e a moral. Numa palavra: as civilizações presentes e futuras.


Ao passo que o gênio é o marginal das grandes decisões.
Enquanto o gênio rosna de impotência e frustração, eis o cretino a fazer a história!
(Nelson Rodrigues, circa 1965).

Luar sobre Fortaleza

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Praia de Iracema

Lady Godiva

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Info-Arte

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Verso e reverso

Fotopoema

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Nascimento

Fotopoema2

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Picasso - Guernica

O Sudoku de Ant.Gaudi no portal da Sagrada Família em Barcelona

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Qualquer soma nas colunas, nas linhas ou em X dá 33: a idade de Cristo na cruz!

Pensamento1

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Fanatismo

Dies irae dies ille

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These foolish things

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Tem dias...

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Tem dias!

Wicked game (Kris Izaac)

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Babalu

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Fotopoema

Festival de Natal - Lago Negro - Gramado-RS

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Nativitaten - um espetáculo que se renova e merece ser visto e revisto!