quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Pai Noel e o Palhaço Picolé

Quem é, melhor dizendo, e quem foi realmente o bispo Nicolau?
Porque essa figura esdrúxula que já caiu no imaginário planetário da cristandade está tomando o lugar do aniversariante verdadeiro: Cristo?

A Wikipedia nos diz em seu site que essa rubra figura nada mais é que o ícone de um bispo nascido no século IV, em Patara, na Lícia, antiga região da atual Turquia.

Nicolau de Mira, dito o Taumaturgo, foi bispo em Mira, na Ásia Menor, no século IV. À época do império romano, sob o regime de Diocleciano, foi preso por se recusar a negar sua fé cristã.  Sob o regime romano de Constantino, emigrou de Constantinopla (hoje Istambul) para a Rússia, onde, apesar de não mais exercer suas funções episcopais, se notabilizou por sua extrema caridade e sua preocupação com os pobres e crianças carentes.

Nicolau foi cognominado taumaturgo porque, em latim canônico, essa palavra significa “fazedor de milagres”. Conta a lenda que seu amor por crianças carentes e doentes era tanto que,  por várias vezes,  conseguiu até ressuscitá-las. Foi beatificado, santificado e eleito santo maior da Igreja Ortodoxa Russa e consagrado  padroeiro da Rússia.

Uma questão intrigante: apesar de iconizado como símbolo do Natal, o verdadeiro dia de S.Nicolau no calendário católico apostólico romano e ortodoxo russo é 6 de Dezembro e não 24 de Dezembro, quando erroneamente é festejado a ponto de atualmente ofuscar o verdadeiro aniversariante!
Outra questão: São Nicolau, apesar de bispo, não andava vestido de vermelho nem era gordo como seu ícone aparenta. ao contrário, como era comum aos antigos cristãos e sobretudo dirigentes religiosos, fazia sacrifícios, jejuava bastante, era frugal na alimentação, peregrinava a pé por toda a região em sua missão evangélica e deveria se privar de muitos confortos, jamais poderia ter uma imagem de velho gordo e bonachão. 

A imagem que impingem às crianças deve ser fruto do imaginário popular que atribui à época de Dezembro a época da colheita e da fartura na mesa.
Essa figura entretanto está se agigantando nos tempos atuais, consagrada pelo mercado, multiplicada em miríades pelo comércio, patrocinada pela indústria e estimulada pelos pais . Está roubando a cena e o significado da festividade: Natal, Noel, Natividad, Christmas, é aniversário de uma figura milhões de vezes maior, sem a qual não existiria nenhum São Nicolau.  O verdadeiro Papai Noel, Papai Natal, o pai do aniversariante deveria ser, no mínimo, São José.

Ok, você venceu: São José não cuidou de muitas crianças carentes, apenas de uma, salvando-a da fúria de Herodes...

Na verdade o significado simbólico dessa figura mítica de um bom velhinho é o da idealização infantil de um velho e amável pai provedor, que nunca morre e sempre retorna anual e obrigatoriamente para a festa “natalina”, a ponto de se confundir com a própria festa e tomar o nome da própria festa – Papai Noel!

Vamos imaginar o seguinte: seu aniversário é comemorado todo ano por dezenas e depois centenas de amigos. E todo ano, invariavelmente, por anos seguidos, mesmo depois de você crescido, seu pai convida o palhaço Picolé para distribuir presentes para você, os convidados e as crianças do bairro. Aí em um dos seus últimos aniversários você se espanta: você foi esquecido em um canto, recebe poucos cumprimentos e quase nenhuma atenção, enquanto a mundiça toda celebra a grande figura do dia, travestido em um de seus milhares de clones e vestido de amarelo berrante, com um gorro verde abacate na cabeça, eis que desce de helicóptero para sua festa, sob fogos e os aplausos de toda a galera, nada mais nada menos que o grande, gordo, venerado e ansiosamente esperado Palhaço Picolé!
Você, o que faria?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sentimentos indescritíveis


Existem sentimentos e emoções que a caneta, o papel, a música ou a poesia não têm condições de transmitir. Sons, letras e palavras são insuficientes. Há sentimentos e emoções indescritíveis na vida quando a tentativa de exprimi-los não diz tudo porque são engramas que ficam no fundo da mente ou da alma, como queiram.

Como a extrema paz e a extrema depressão.
Uma alegria muito intensa e uma tristeza profunda.
Ou um momento passageiro e não captável de um “joie de vivre”, quando um arrepio vem da espinha e percorre o corpo com um bem estar indizível.
Uma paisagem súbita que subitamente massageia a visão e depois se perde no espaço  mas fica gravada no tempo.
Um som breve e perfeito  ressoando ao longe e depois reboar como um eco nos ouvidos.
Um estar bem entre pessoas queridas que ali nunca se encontrarão novamente.
Um momento de integração com a natureza ou com o cosmos, testemunhando o simples prazer de estar vivo.

Sentimentos que não se compram, não se vendem, não se descrevem nem se promovem. Sentem-se ou não.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Flashback


Dezembro, 8, era o dia de saída do internato para casa,  para três meses de doce fazer nada. Julho passava muito rápido para contar.


E todo 8 de Dezembro, dezenas de anos depois, acende na memória uma chama de lembrança, não da vela oferecida em voto ao dia da Virgem Imaculada, mas de uma sensação de liberdade inexplicável em plena puberdade dos onze, doze, treze e quatorze anos. Quatro anos suficientes para uma reflexão forte, um engrama beliscando o inconsciente e uma tomada de posição consciente de não mais voltar.

Mas isso já é outra estória. Voltemos a 8 de Dezembro.

Quatro meses sem a família e de repente o esperado dia.
Quatro meses de obrigações rígidas e de repente o “dolce fare niente”.
Quatro meses de paisagem confinada e de repente o panorama.
Quatro meses de coleguismo e de repente os(as) coleguinhas.

Dia sete, a ansiedade total, a insônia, a angústia, a náusea, os planos e o medo, medo de a mãe não estar lá na portaria bem cedo a me esperar.
São oito horas da manhã do dia 8 e ela já telefonou perguntando por mim.
Dia oito, o relaxar, o encontro, o desencontro e o reencontro; os cheiros diferentes, a visão diferente, os novos sons, os sabores contrários, as emoções.
Nesse dia, dezenas e dezenas de anos depois, ainda sonho saindo pelo portão grande e barroco do Seminário da Prainha, levando de frente uma lufada de sonho e vento da praia de Iracema, protegido no alto pela efígie do Cristo Redentor me apontando o caminho e deixando para trás as crenças rituais, a fé nos ritos apostólicos romanos, mas sempre com um Deus cósmico no coração.

Nas noites do dia oito de Dezembro, abraço em sonhos meus pais falecidos, tomo a benção a tios que já se foram e beijo a mão da tia Vanda, a que me fazia belos bifes na chapa, tentando inutilmente me engordar, com a tia Guiomar sentada ao lado, a aprovar, fitando-me com seus grandes olhos de lago parado.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Estética e preconceito

Artrópodes têm um tronco evolutivo comum. Baratas e joaninhas são parentes muito próximos. Joaninhas fazem pequenos vôos. Baratas também. Mas que fenômeno estético e mental me faz achar bonita e admirar uma joaninha ou outro besouro de casco luzidio e achar horripilante o corpo de uma barata?

Que conotações histórico-evolutivas e associativas fazem os humanos,  principalmente o sexo feminino, achar horripilante uma barata e bonitinha uma joaninha? 
Que mecanismos psicológicos projetivos ou substitutivos estão implicados no fato?

Na evolução da humanidade, por milhares de anos enquanto a espécie ainda morava em cavernas, terão havidos conflitos de coabitação com esses artrópodes farejadores de comida e asquerosamente sequiosos por grutas, inclusive as pequenas grutas humanas: boca, ouvidos, etc.?

Terão sido esses conflitos de coabitação gravados e arquivados no inconsciente coletivo e, mesmo em habitações melhores milhares de anos depois, repetidos como um imprint na mente humana? Que conotações as baratas possuem,  sobretudo na cabeça das mulheres, que geraram esse imprint genético e transmitido de geração em geração nos meandros dos neurônios humanos? Os endocrinologistas poderiam até inventar um "baratômetro" para detectar o nível de hormônios femininos: soltava-se uma coleção de baratas de dentro de uma caixa e quanto maior o grito e a carreira,  maior o nível de estrógenos.

Ah, (dirá o pessoal da saúde), esse bicho asqueroso transmite muitas doenças, sobretudo hepatite C...
Tudo certo. Mas está provado e pesquisado: as formigas doceiras, aqueles minúsculos e inocentes insetos caseiros, transmitem muito mais doenças que as baratas e nos hospitais, são os principais vetores de infecções hospitalares.

A mesma aversão humana se verifica entre pássaros e morcegos, esses últimos, nossos antigos competidores em cavernas!

Estaria essa estética nas mesmas raízes psico-genéticas que geram empatia, simpatia, antipatia, aversão e até pavor? Ou seria apenas um fenômeno geral de estética inerente ao ser humano e nato, segundo Aristóteles!?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Os iniciantes que me perdoem mas experiência é fundamental

Perguntaram-me se conhecia o Dr. Fulano de Tal, nome bastante divulgado na sociedade local, e se era um bom psicólogo. Calado fiquei após apenas responder um sonoro “não sei”.

Indicar um profissional de saúde sem nunca ter sido atendido pessoalmente pelo próprio é pior que indicar o número que vai ser sorteado na loteria; pode-se ser sorteado mas se não o for, as complicações que poderão advir também podem sobrar prá você...

A Psicologia como ciência e profissão, quando puramente teórica, mesmo a dita “aplicada”, não tem valor se não for acompanhada por experiências próprias, pessoais ou adquiridas no lidar com seus pacientes e apreendida e aprendidas nas relações humanas reais e interpessoais.


Como valor agregado há de ter o tempero das desilusões e do lidar com sonhos, ilusões e frustrações, com os enganos, as lutas e os embates da vida. Com máscaras e "personas".

Sem chavão, não custa bater no bordão: a vida ainda é a melhor mestra – mesmo para psicólogos e psiquiatras, com dezenas de teorias comportamentais na cabeça.
Ou seguem alguma “escola”, ou ecleticamente fazem um mix de várias, como os modernos “Transpessoais”; ou simplesmente os que não seguem nenhuma e se derivam para o ramo fácil da auto-ajuda para seus clientes.

Os doutores que me perdoem, os psicologismos são muitos e podem ser vazios se não acompanhados por experiências. As vivências, nesse ramo, ainda são fundamentais.
Os bons nem sempre são aqueles que se promovem na mídia; nem sempre os livrescos, que se promovem escrevendo dezenas de livros de auto-ajuda para se auto ajudar; não são os que têm colunas em jornal e programas no rádio.

Admitamos, bons profissionais da mente não são os que apenas conhecem a mente a fundo pelos livros, pela obra de Freud ou Yung; nem os fieis seguidores da psicologia científica de Wundt, James, Titchener ou Dewey; nem os behaviouristas da Gestalt ou os Fenomenologistas de Merleau-Ponty.
Bons psicólogos e psiquiatras são aqueles que ajudam o paciente não só a colocar os pés no chão, mas também, figurativamente, a cabeça, como em um quadro de Salvador Dali.

São os que se dedicam a cada caso, a cada indivíduo como se a própria pessoa fosse uma “escola” em si, e tentam apoiá-lo e guiá-lo em seus conflitos interiores com sua experiência e a de seu paciente, sabendo que este é o único a realmente conseguir resolvê-los, a seu modo, e, além de tudo, são holísticos, possuem inteligência emocional e equilíbrio para lidar com sua própria mente e a dos outros.
Profissões difíceis! E nesse caso, a prática é amiga da perfeição e o melhor anúncio desse tipo de profissional ainda é o boca-a-boca.

domingo, 20 de novembro de 2011

Georgia O'Keeffe e a frase que mudou sua vida

Ví ,em DVD, um filme documentário romanceado sobre a vida e obra da pintora norte-americana Georgia O’Keeffe.  Georgia foi uma artista na década de 20, época onde as mulheres não pintavam nem tinham vez no mercado de arte dominado internacionalmente pelos homens. Mas ela pintava pelo prazer de pintar. 

Tinha medo de se expor e expor sua obra ao público. Até que conheceu e teve um love affair entre tapas e beijos com um fotógrafo nova-yorkino, Alfred Stieglitz, casado, por quem se apaixonou e passaram a viver juntos no início do século XX (olha o escândalo!), e que a incentivava a produzir e expor seus quadros, por sinal, muito alegres e coloridos, pintados em telas enormes. Na verdade ela tinha sido uma das raras estudantes femininas do Instituto de arte de Chicago e posteriormente da Liga de Estudantes de Arte de Nova York. O’Keeffe relutava em expor mas Alfred, que também era dono da Galeria 291, já tinha exposto uma coleção de desenhos de Georgia, que uma amiga de ambos havia-lhe  enviado sem uma autorização expressa da artista.

Georgia relutou em mostrar sua obra ao público até que Stieglitz lhe sapecou na cara a seguinte frase:

“Georgia, uma obra não é arte até que algum rico a veja e apareça para comprá-la ; aí torna-se uma obra de arte...!

Georgia O’Keeffe fez a primeira exposição de suas enormes telas em Abril de 1917, na Galeria de Alfred, a 291. Sucesso total. Vendeu todas as obras para os emergentes dos “roaring twenties” e passou a ficar conhecida no mundo da arte.

Casaram-se em 1924, após um conturbado divórcio do fotógrafo com sua primeira mulher. Em 1928 seu marido vendeu uma série de 6 pinturas de lírios feitas por O’Keeffe por 25000 dólares, um verdadeiro recorde para a época. 

A pintora pessoalmente era uma mulher feia e sem muitos atrativos! Dizem as más línguas biográficas que Alfred se aproximou dela mais por vantagens pessoais após conhecer sua produção e aferir e auferir vantagens pecuniárias. 

Dizem também que Alfred fez mais de 250 fotos eróticas de Georgia para expor e vender!

O certo é que pouco tempo depois o casal se separou e a pintora se refugiou só, acompanhada apenas de uma empregada nativa, em um rancho, no interior do Novo México, onde, dizem ainda as mesmas más línguas, que ela, algum tempo depois, passou a viver junta com uma grande amiga, Maria Chabot, (aí já é outra estória nada comprovada). Em 1972 ela parou de pintar quando ficou parcialmente cega, após sofrer um processo de degeneração macular, conservando apenas uma visão periférica. Sua sorte é que, no mesmo ano um ceramista desempregado chamado Juan Hamilton, apareceu no rancho pedindo emprego, quando, além de aceito, ensinou a Georgia a arte da cerâmica, e ela, mesmo com um grande déficit de visão, passou a produzir belas e valiosas peças em cerâmica.

Alfred morreu em 1946 de AVC, pouco tempo depois que ela foi para o Novo México. Em 1962 O’Keeffe foi eleita membro da Academia Nacional Americana de Artes e Letras e em 1977 foi agraciada pelo presidente Geral Ford com a mais alta comenda americana, a Medalha Presidencial da Liberdade.

Em 1984 mudou-se para a cidade de Santa Fé e em 1986 morreu aos 98 anos.
Seu rancho no Novo México, o “Ghost Ranch”, transformou-se em um museu onde está uma parte significativa de suas obras.

Veja sua pintura em:



Veja o filme com Jeremy Irons no papel de Alfred.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ontogênese adolescente

Li uma reportagem de um magazine semanal, a revista “Isto É”, sobre um estudo científico do comportamento tipicamente adolescente baseado em dados de Neurociência.
A conclusão básica é a de que o adolescente é, como diria o falecido cantor-compositor Raul Seixas, uma “metamorfose ambulante”.

A mim, pelas conclusões básicas postas na revista sobre esses estudos, me parece apenas mais uma  confirmação de um aforismo científico de um fisiologista do século XIX: “A ontogênese repete a Filogênse”, ou seja, o desenvolvimento do ser humano desde sua fase embrionária até sua plena capacidade, repete os passos da evolução.

Sabemos hoje que o embrião humano tem as mesmas guelras de peixe, o mesmo rabo dos répteis e algumas glândulas misteriosas que persistem na infância, como o Timo, por exemplo, própria de mamíferos primitivos, além  de outras quizumbas genéticas surpreendentes estudadas pela Ontogenia e Embriogenia.

O que me surpreendeu na pesquisa neuro-científica atual, abordada pela revista, foi a semelhança entre os dados encontrados  e os dados expostos no livro “Os dragões do Eden”, um livro de Carl Sagan, que teve sua primeira edição no Brasil em 1985, onde o autor combina campos de Antropologia, Biologia da evolução e Psicologia Comportamental.

Os dados mostrados resumidamente pela revista apontam que certos comportamentos adolescentes são próprios da evolução ou da ausência de desenvolvimento de certas áreas do cérebro.

Desordem no quarto: a região cerebral responsável pela organização espacial ainda não amadureceu.

Aderência a bandos e tribos, gregarismo em turminhas: a quantidade de neurônios-espelho, aqueles responsáveis pela cópia de comportamentos de pais, parentes ou amigos próximos e iguais; nessa idade, esses neurônios estão em seu número máximo!

Prazer e recompensa imediata (tendência explicável ao uso de drogas): o cérebro adolescente se inunda de dopamina, (o hormônio cerebral do prazer e do bem estar), com o menor estímulo que satisfaz.

Raiva surpreendente ou tristeza profunda: o Sistema límbico, uma região cerebral primitiva e bem desenvolvida nos répteis, desenvolve-se em tamanho e atividade máxima nessa fase. (Cuidado ao lidar com um adolescente – ele é uma cópia neurológica reptiliana! Suas emoções não têm meio termo, são intensas e iguais a de uma cobra – não mexa com ela(e)...

Impulsos incontroláveis: o córtex pré-frontal, responsável pelo controle e racionalidade dos impulsos, ainda não amadureceu completamente. Os impulsos neurais seguem vias neuronais primitivas, localizadas em estruturas do tronco cerebral, nas regiões mais primárias do cérebro.

O magazine, de Outubro de 2011, cita suas fontes e dá mais detalhes que não me cabem aqui reproduzir. Estou colocando apenas tópicos que também batem com os estudos de outro livro: “O Macaco Nu”, de Desmond Morris, publicado no Brasil no início da década de 70 pela Editora Record. Uma resenha do New York Times sobre esse livro afirmou: “um retrato do homem como primata por hereditariedade e carnívoro por adoção...”

O que chama atenção são alguns aspectos do mesmo estudo neurológico que considera como “positivos”, socialmente falando, alguns comportamentos derivados desses aspectos neurológicos do cérebro adolescente, tais como:

  • Maior percepção sobre o que quer e pensa o outro.
  • Mais capacidade e rapidez de tomar decisões.
  • Raciocínio mais complicado.
  • Maior capacidade de planejar ações.
Ora, o que é isso senão um cérebro reptiliano, o cérebro de um réptil predador, uma estrutura neurológica e comportamental típica de dinossauros, preparados para ataque e defesa?
Resumindo a ópera, cuidado: se fosse possível, você nunca poderia lidar com Galimimos, Estegossauros, Megalossauros ou outros sauridas semelhantes. Não por acaso, o herói do "Parque dos Dinossauros", de Spielberg, é um adolescente.  

Conforme-se, você nunca aprenderá a lidar também com ofídeos criados, a não ser que esteja na mesma idade aborrecente...

sábado, 29 de outubro de 2011

A Grama


















Ah, essa grama tão verde
já esbatida em marrom
Escrínio de antigo som
Tom que reverberará
em nosso ouvido cansado
e nos que ainda vão ser.

Ah, essa grama é a tela
onde projeto o que fomos
o que nunca nós seremos
e o que devia ter sido.

Ah, essa grama é a vela,
a vida, o vento e o alento.

A grama onde se perde
todo o azul da infância
a grama onde a lembrança
não cresce além da pele
nem dos pelos da cabeça.

Essa grama é aquela grama
muito antiga na memória
Aquela grama onde dançam
as menininhas de trança
e as bolas que pulam e rolam
num movimento perpétuo.

Winston

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Similaridades culturais enigmáticas

Existem algumas similaridades culturais enigmáticas na história das civilizações que me surpreendem e espantam desde que, de calças curtas, comecei a estudar os livros do curso fundamental, antigo “curso primário” (que na verdade não eram tão “primários” assim!).


Uma delas, por exemplo, é a similaridade entre as carrancas dos barcos do rio São Francisco e as dos navios vikings. Que influencia os ribeirinhos do velho Chico teriam  sofrido dos antiqüíssimos navegadores vikings? 

Como gente de cultura tão simples e tão “naif” teria tido acesso a informações e imagens suficientes para assimilar as carrancas dos barcos vikings e incorporá-las a seus barcos? 

A crença básica, segundo estudos de ambas as culturas é a mesma: figuras horrendas, zooantropomorfas, com expressão geral de ferocidade, cabeças alongadas, olhos oblíquos e malévolos e bocas ameaçadoras, espantam os inimigos ocultos, a inveja e os maus espíritos das águas. 

Apesar de as novas embarcações do Velho Chico já não adotarem mais as carrancas em sua proa, elas continuam como objeto de decoração e de crença – acredita-se que colocada em um local de um ambiente onde elas visualizem o acesso, elas neutralizam imediatamente a inveja e o mau olhado.

A pergunta básica e antiga na minha cabeça é:
- Como, de que maneira, os vikings influenciaram a cultura do São Francisco?



Veja mais sobre as carrancas do S.Francisco em:

Outra similaridade cultural que continua a me surpreender é aquela que existe entre as pirâmides das culturas pré-colombianas, maias, incas e astecas e as pirâmides egípcias. Quem levou essas informações a essas culturas em uma época onde não havia nenhum artefato feito pelo homem capaz de cruzar os mares ou os ares?


Em um livro que foi best seller no mundo todo, “Eram os deuses astronautas?”, escrito em 1968, o escritor e pesquisador alemão Erich Von Daniken, sugere que as pirâmides das culturas pré-colombianas da América foram, mesmo que indiretamente, influenciadas por seres extra-terrestres, com suas naves viajando à quase velocidade da luz e frequentando a terra desde priscas eras!


Sabemos que os seres pré-históricos construíam pequenos morros (os precursores das pirâmides) que serviam de túmulo para seus chefes ou figuras importantes da tribo. 

Na China, no Japão e em outras culturas orientais primitivas essa tradição persistiu por milênios, desde os primórdios da idade da pedra. 

As pesquisas arqueológicas brasileiras, sobretudo as realizadas no Piauí pela professora pesquisadora  Niède Guidon, encontraram em sítios arqueológicos no Piauí, pequenas formas primitivas e pré-históricas de pirâmides de terra e barro, chamadas “sambakis” que, embora muito menores, já teriam uma similaridade persistente e consistente com os morrotes funerários orientais!


Acredite quem quiser,  mas a segunda pergunta básica que não cala é a seguinte:
- Quem influenciou quem a fazer pirâmides e como foi possível essa influência arquitetônica? Será que os gens de seres migrantes conseguem transportar durante milênios informações culturais e fenotípicas?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dissipação

Quando vejo a desatenção e a falta de concentração em tarefas escolares de algumas crianças e jovens de hoje como gostaria que soubessem do exemplo de gente que conseguiu produzir teses valiosas para as ciências em meio a um caos no ambiente ao redor.
Coisas de cientistas? Talvez, pour cause, fossem cientistas...

Quando os vejo, dissipados, lutando para ler uma página de livro, parece-me ver o russo Pavlov, encerrado em um quieto e típico laboratório de fisiologia, horas a fio e sem noção de horas, em silêncio perturbado apenas pelo latido de seus cães cobaias, absorto em suas clássicas e famosas  experiências de condicionamento neuro-psíquico, estabelecendo suas leis comportamentais sobre os reflexos condicionados, tão úteis posteriormente para  inúmeros ramos da ciência além da própria Fisiologia, tais como: Psicologia, Neurologia, Psiquiatria, Psicanálise, Etologia e até mesmo para a Sociologia, a Pedagogia e a Educação!
E pensar que lá fora o mundo ao redor se destruía por uma guerra! Barulho de bombas, tiros e granadas não conseguiram perturbar Pavlov e desviar sua concentração, absorto em seus estudos, seus escritos, suas teses!

Parece-me ver também outro fisiologista, Claude Bernard, em uma casa antiga, modesta, úmida, quase medieval, nos arredores de Paris, noite a dentro à luz de velas e candeeiros, a elaborar suas teses médicas sobre a homeostasia do metabolismo humano e, na segunda metade do século XIX,  os parâmetros da medicina moderna com sua memorável e laureada obra: “Introdução ao Estudo da Medicina Experimental”que lhe valeu uma cadeira na Academia Francesa e até hoje dá as bases para um novo tipo de abordagem pedagógica nas modernas escolas de medicina e 

Parece-me ver Louis Pasteur também à época morando em Lille, norte da França, trabalhando como decano da Faculdade de Ciências, estudando e observando dia e noite.
Em suas experiências, estudos, observação e experimentos com germes, descobriu o fungo fermentador da cerveja (saccharomyces cerevisae), atribuiu a certas bactérias as causas de muitas doenças (doenças infecciosas), inventou a primeira vacina, uma vacina contra a raiva animal, inventou o processo de purificação do leite (pasteurização) e em 1871 obrigou os médicos dos hospitais militares a lavar as mãos antes dos procedimentos e a usar instrumentais, bandagens e aventais previamente fervidos.  E sobretudo, após estudos e demonstrações criativas,  derrubou por terra a tese vigente à época da “geração expontênea” (abiogênese). O que resultou de sua capacidade de foco e concentração salvou e continua a salvar, a partir do século XX, milhões de seres no planeta, prolongando-lhes a vida ou lhes dando mais qualidade.

Atualmente, o foco e a concentração está difícil até  para os que a desejam para cumprir uma meta qualquer onde ela se faz necessária. Há uma dissipação geral estimulada por TVs e rádios próximos, a berrar, conversas inúteis, noticiários desestimulantes, redes sociais vazias, barulho de veículos, de aparelhos e de músicas sem alma. Restam as madrugadas, mas as madrugadas são dos amantes, dos poetas, dos insones, dos boêmios e dos aposentados...


domingo, 9 de outubro de 2011

Um ponto, nada mais que um simples pixel!

Essa é uma foto do planeta Terra que pertence ao acervo da NASA, tirada pela sonda espacial Voyager em fevereiro de 1990, a exatamente 6.000.000.000 de km de distância. Não era para ter sido feita porque a nave ia em seu rumo reto, de costas para a Terra, rente a um raro alinhamento de planetas do sistemas solar, justamente para fotografa-los. O famoso cientista, astro-físico, escritor e multimídia Carl Sagan estava na equipe de comando à época e conseguiu que os operadores manobrassem a sonda por alguns instantes para que ela fotografasse a terra daquela distância. 


Eis no que resultou: um ponto, um simples pixel do tamanho do pingo desse i,  perdido no desenho de um braço de galáxia.
E nesse ponto nós viemos à vida e morremos, crescemos e lutamos, fazemos o amor e a guerra, nos ajudamos e nos destruímos, inclusive estamos tentando eliminar esse ponto do universo. O pixel que contém toda a história de uma criação, toda uma evolução de bilhões de anos, toda a história de nossa humanidade. Será que é isso que somos para Deus: nada mais que um pixel no desenho gigantesco de Sua criação? Entregues a nosso próprio destino nós é que devemos cuidar sozinhos desse microscópico ponto, um minúsculo lugar que nos cabe no infinito cosmos?


A sonda foi re-manobrada e continuou sua  viagem sem fim rumo ao espaço, fotografando outros minúsculos pontos, maiores ou menores, mas para a imensidão do universo, apenas pixels. 
Hoje, se é que ela não foi destroçada por meteoros, deve estar a uns vinte e tantos bilhões de kilômetros longe de casa. Atualmente, a Voyager 1 é o mais distante objeto a partir da Terra feito pelo homem, viajando  a uma velocidade relativamente mais rápida que qualquer outra sonda ou foguete. Até 2015, deverá ter deixado completamente o Sistema Solar.


Baseado no "pálido ponto azulado" da foto, Carl Sagan escreveu, quatro anos depois, seu livro "Pale blue dot" , onde tece considerações semelhantes mas muito mais apropriadas, dignas de um cientista-filósofo moderno:


"Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.

A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido." 
(Carl Sagan)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Os mitos modernos sob a luz de um filósofo

Nós acordamos e tentamos viver nossa realidade e pensamos que as realidades das pessoas que habitam o planeta dividem-se em classes, em castas, como a classificam os economistas e políticos: miseráveis, pobres, classe média, média-média , ricos e milionários.

Roland Barthes, um filósofo e escritor francês nascido em 1915 e falecido em 1980, acha que não. A idéia de realidade é absolutamente histórica e local. Há uma mistificação ocidental que tenta transformar as culturas pequeno-burguesas tentando lhe impingir uma natureza universal.
Barthes tem 27, (isso mesmo: vinte e sete!) livros traduzidos e editados no Brasil, ou seja, passou a vida pensando e escrevendo com muita substância, sem clichês e sem necessidade de apelar para parábolas com bruxas, duendes, mitos eslavos e outras queijandas vazias afins.

Seu mais famoso e lido livro “Mitologias” analisa os mitos modernos, os mitos que nos rodeiam e permeiam nossa realidade. Aqui o autor desnuda a pele de significados que envolvem as coisas de nossa vida diária e das sociedades do ocidente.
Assegura que não há mitos eternos e que as falas, em suas diversas formas, são mensagens míticas: escritas, discursos, fotografias, reportagens, espetáculos, representações coletivas e publicidade, tudo é suporte para uma fala mítica!

Interessante essa análise de Barthes: “o autor, compositor, pintor, escritor ou produtor cultural não tem passado pois nasce com o texto”, isto é, com sua produção cultural. É importante pensar isso, pois tenho ouvido por aí muita gente dizer, enchendo a boca de saliva preconceituosa, que não gosta da música de determinado compositor ou cantor porque ele parece ser homossexual, como se um cantor estivesse lhe cantando e não compondo ou cantando apenas uma música que em sua mensagem não tem nada a ver com o objetivo do preconceito. Já ouvi gente sobrepujar a beleza e perfeição de um quadro de Leonardo Da Vinci com um pensamento mítico de que ele era gay!

Da releitura das  “Mitologias” extraí algumas pérolas:

Sobre Juizes: “...refugia-se na lei quando pensa que esta lhe é propícia e a trai quando lhe convém. Figuras imprevisíveis, logo, associais...”

Sobre a Ciência: “a ciência segue seus caminhos lógicos e racionais, depressa e bem. Mas as representações coletivas não a acompanham, mantendo-se séculos atrás, estagnadas no erro estimuladas pelo poder, pela mídia ou pelos valores da ordem”.

Sobre uma figura religiosa que recebeu o Nobel da Paz: “um álibi que as nações ocidentais lançam mão para substituir impunemente a realidade da justiça pelos signos e significantes da caridade!”

Sobre teatro e televisão: “... o que o público reclama é a imagem da paixão, não a paixão. Não existe aí o problema da verdade. O que se espera é a figuração inteligível de situações morais habitualmente secretas...”

domingo, 2 de outubro de 2011

Os alquimistas chegaram !


Jorge Benjor cantou há muitos anos atrás que “Os alquimistas estão chegando”...
Enfim chegaram! Porque se somos o que comemos, eis o que comemos: sintéticos. Carnes de cores artificiais, pintadas de corante vermelho para atrair consumidores, sucos e refrigerantes com sabores artificiais, corantes químicos, acidulantes e flavorizantes. Café com sintéticos que lembram vagamente o gosto do verdadeiro café; margarina de petróleo, leite artificial, adoçantes com ciclamatos, sorbitol e sacarina sódica, odoriferisantes A-2, INS 338 (?!) e outras substâncias químicas estranhas e de nomes estranhos, direto para o organismo, direto para a circulação, para o fígado e outros órgãos. Pura química a nos corroer! A nos explodir sob forma de patologias que nunca dantes na história da humanidade foram tão estatisticamente frequentes.

Sem falar nos fertilizantes que contaminam as verduras de quem curte folhas, tomates, cenouras, beterrabas e afins.
Sem falar dos hormônios que engordam frangos e porcos.
Sem falar em peixes contaminados com radiação.

Não, Jorge: não estão chegando os alquimistas... há tempos vieram para ficar, voltaram do fundo da idade média para nosso futuro e o de nossos netos!
Viu, Gil? Há tempos “começou a circular o expresso 2222”.

Se somos o que comemos, eis o que somos atualmente: seres sintéticos em sociedades artificiais, a sofrer todo tipo de mazela resultante da química que esse imenso, planetário e anônimo laboratório industrial nos impinge na alimentação diária.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Joaquim Inojosa e a Semana Modernista no Nordeste Brasileiro

Muito já se falou, publicou e se discutiu, principalmente nos meios acadêmicos de literatura sobre a Semana de Arte Moderna Brasileira de 1922, ou simplesmente a “Semana Modernista Brasileira”, quando a arte, incluindo-se aí pintura, escultura, romance, poesia e música, enfim, a produção cultural nacional tomou um novo rumo, libertando-se da influência estrangeira, embora admitindo por um viés dito “antropofágico”, enguli-la, mastigá-la e cuspi-la de um modo diferente, um modo brasileiro.

Foi uma “Semana”  tipicamente sulista, mais especificamente paulista. Muito já se escreveu sobre seus atores/personagens famosos, responsáveis por essa guinada de rumo na cultura nacional: Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Di Cavalcante, Raul Bopp, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida e Heitor Villa-Lobos, Lasar Segall e Manuel Bandeira, entre mais algumas feras pensantes e revolucionárias.


No "manifesto Antropofágico' (1922), Oswald de Andrade delineia o movimento em São Paulo com essa frase que lembra um pouco o compositor Cazuza em "Ideologias"): "Somos concretistas. As ideias tomam contam, reagem, queimam gente em praça pública. Suprimamos as ideias e outras paralisias. Pelos roteiros: acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas!"

Pouco se falou no entanto de Joaquim Inojosa, advogado e jornalista pernambucano, nascido em 1901 era jovem quando participou ativamente do movimento, fazendo-se presente e atuante em vários eventos, trouxe as idéias para o nordeste brasileiro, mais especificamente para a mídia de Recife, Pernambuco.
Em “O Movimento Modernista em Pernambuco”, cuja terceira (e última?) edição foi publicada em 1969, detalha ações, escritos, manifestos e participantes. Lá se encontra essa pérola:
“A ARTE NÃO TEM PASSADO NEM FUTURO, SÓ TEM PRESENTE...” (J.Inojosa)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Anotações sobre uma pequena e antiga viagem de carro pela nordestinidade

Nordeste brasileiro. Pequeno país! Se a Confederação do Equador tivesse sido vitoriosa seria um grande pais. Mesmo assim seus filhos ainda a consideram uma nação. Há algum tempo, fizemos, de carro, um tour pela região, parando em algumas cidades. Foi uma segunda viagem, após uma primeira, mais longa, onde fomos, também pelo litoral, até o Rio. Fiz algumas anotações e guardei-as no caderno das lembranças, na gaveta dos esquecimentos. Hoje, “sem ver nem prá crer”, lembrei-me de resgatá-las.

Recife: seu destino é ser prá lá de Veneza, mistura de Salvador com Fortaleza, com sua vida diurna e pouco noturna, cidade rica de quem muito trabalha e de muitos contrastes, se exibindo na orla, colar de prédios de luxo, e se deixando  mostrar em suas partes baixas nos Afogados. Caminhar em suas ruas e sentir o cheiro de camarão Pitu no ar é uma experiência ímpar, a olhar seu povo, um dos maiores caldeirões genéticos da face da terra, onde se mesclam índios, ameríndios, negros, mamelucos, portugueses e holandeses, com um só sotaque.

Oh linda Olinda: Não adianta o poder público te abandonar, o turista te sujar e Recife poluir teu mar. A cidade Maurícea está lá onde sempre estará, habitando o ideário popular, tendo saudades de Nassau como o povo português ainda sente de D.Sebastião, morto há séculos na batalha de Alquivir. Teu destino te parou no tempo, emparedado no formato de queijo no fortim de S.Francisco, construído em 1620. Teu carnaval é tão tradicional quanto único, como o feijão cozido que se serve com caipirinha.

Caruaru: capital do agreste, raízes de nordestinidade, refúgio de imigrantes italianos trotskistas e anarquistas no bom sentido político, berço de mascates e dos Nunes dos Bezerros, Itu do nordeste, onde tudo se faz maior – a maior feira livre do mundo, o maior São João do mundo, o maior forró do mundo, onde no Alto do Moura se concentra a maior população do mundo de artistas populares figurativos, centro de artes reconhecido pela UNESCO, onde ainda flutuando sobre macambiras, xiquexiques e mandacarus, flutua o espírito do saudoso Mestre Vitalino. 

Natal: nordeste – união, esquina do continente e um dos quatro pontos mais estratégicos do mundo, onde se respira o ar mais puro e renovável das Américas e onde, no auge da segunda guerra mundial, mocinhas da geração coca-cola perdiam sua virgindade para pracinhas de uma base americana. Onde o passado é conservado no exemplo de um forte símbolo e sinônimo de classe média florescente, inteligente e criativa, limpa e vibrante, conservadora e moderna, cidade pequeno-grande, exemplo para o resto do nordeste, incluindo Fortaleza. Onde tudo é turismo e inventividade. Onde um forte planejado em forma de estrela em 1597 por um padre jesuíta homenageia os Reis Magos. Tudo se transforma em turismo: o maior cajueiro do mundo e inclusive “a menor cachoeira do mundo”, que não passa da nascente sobre algumas pedras, de um pequeno riacho que se espalha e se espelha sobre um bar molhado de mesas e cadeiras e onde se comem camarões fritos apanhados no próprio riacho, acompanhados de caipirinha de caju. Onde andei de camelo como se fora no Egito ou um beduíno no deserto árabe.

Icó: uma Ouro Preto que não deu certo, única cidade do Brasil que, segundo a Wikipedia,   http://pt.wikipedia.org/wiki/Ic%C3%B3,  teve seu planejamento urbano realizado na corte de Lisboa, onde portugueses de Aracati, descendo pelo Jaguaribe e o afluente Rio Salgado, desembarcaram, trocaram bugingangas com os índios Tapuias da tribo dos ikós e, junto com os homens que vieram do baixo  rio São Francisco, plantaram e comerciaram algodão, criaram gado em suas pradarias e bodes nos seus serrotes. Construíram a terceira vila existente no Ceará do século XVII e um dos primeiros teatros do Brasil imperial: o Teatro da Ribeira dos Icós. Traída pela estrada de ferro de Baturité, que passou por sua cidade vizinha, Iguatu, Icó já morreu e não sabe, e nem ao menos sabe explorar seu potencial turístico barroco português. Até Lampião passou por lá de passagem. Dublê de Aracati. Anti-raízes...

Em algum lugar da passagem por essa nordestina estrada, existe à sua beirada, um açude de água potável, límpida e clara, com um bar ribeirinho onde a única decoração é uma imagem do meu padim padre Cícero, abrigado sob o contraste de telhas amarronzadas pelo tempo e o azul profundo do céu nordestino. A luz imensa de um sol amarelão cora tarrafas de pesca estendidas sobre a areia branca do chão. O dono, um homem gordo, corado e feliz, a rir sempre, pesca na hora e frita na cara do freguês, peixes de nomes estranhos, e corpos saborosos de se comer, acompanhados de aguardente de alambique caseiro, feito pelo avô do avô. Onde tudo é barato, até o passeio de canoa pelo açude que se oferece plácido ao banho revigorante.

Em algum lugar à beira do caminho, por toda uma manhã o dia se fez inesquecível! Viu, Neruda? “Confesso que vivi”...

Luar sobre Fortaleza

Luar sobre Fortaleza
Praia de Iracema

Lady Godiva

Lady Godiva

Info-Arte

Info-Arte
Verso e reverso

Fotopoema

Fotopoema
Nascimento

Fotopoema2

Fotopoema2
Picasso - Guernica

O Sudoku de Ant.Gaudi no portal da Sagrada Família em Barcelona

O Sudoku de Ant.Gaudi no portal da Sagrada Família em Barcelona
Qualquer soma nas colunas, nas linhas ou em X dá 33: a idade de Cristo na cruz!

Pensamento1

Pensamento1
Fanatismo

Dies irae dies ille

Dies irae dies ille

These foolish things

These foolish things

Tem dias...

Tem dias...
Tem dias!

Wicked game (Kris Izaac)

Wicked game (Kris Izaac)

Babalu

Babalu
Fotopoema

Festival de Natal - Lago Negro - Gramado-RS

Festival de Natal - Lago Negro - Gramado-RS
Nativitaten - um espetáculo que se renova e merece ser visto e revisto!