Quando vejo a desatenção e a falta de concentração em tarefas escolares de algumas crianças e jovens de hoje como gostaria que soubessem do exemplo de gente que conseguiu produzir teses valiosas para as ciências em meio a um caos no ambiente ao redor.
Coisas de cientistas? Talvez, pour cause, fossem cientistas...
Quando os vejo, dissipados, lutando para ler uma página de livro, parece-me ver o russo Pavlov, encerrado em um quieto e típico laboratório de fisiologia, horas a fio e sem noção de horas, em silêncio perturbado apenas pelo latido de seus cães cobaias, absorto em suas clássicas e famosas experiências de condicionamento neuro-psíquico, estabelecendo suas leis comportamentais sobre os reflexos condicionados, tão úteis posteriormente para inúmeros ramos da ciência além da própria Fisiologia, tais como: Psicologia, Neurologia, Psiquiatria, Psicanálise, Etologia e até mesmo para a Sociologia, a Pedagogia e a Educação!
E pensar que lá fora o mundo ao redor se destruía por uma guerra! Barulho de bombas, tiros e granadas não conseguiram perturbar Pavlov e desviar sua concentração, absorto em seus estudos, seus escritos, suas teses!
Parece-me ver também outro fisiologista, Claude Bernard, em uma casa antiga, modesta, úmida, quase medieval, nos arredores de Paris, noite a dentro à luz de velas e candeeiros, a elaborar suas teses médicas sobre a homeostasia do metabolismo humano e, na segunda metade do século XIX, os parâmetros da medicina moderna com sua memorável e laureada obra: “Introdução ao Estudo da Medicina Experimental”, que lhe valeu uma cadeira na Academia Francesa e até hoje dá as bases para um novo tipo de abordagem pedagógica nas modernas escolas de medicina e
Parece-me ver Louis Pasteur também à época morando em Lille, norte da França, trabalhando como decano da Faculdade de Ciências, estudando e observando dia e noite.
Em suas experiências, estudos, observação e experimentos com germes, descobriu o fungo fermentador da cerveja (saccharomyces cerevisae), atribuiu a certas bactérias as causas de muitas doenças (doenças infecciosas), inventou a primeira vacina, uma vacina contra a raiva animal, inventou o processo de purificação do leite (pasteurização) e em 1871 obrigou os médicos dos hospitais militares a lavar as mãos antes dos procedimentos e a usar instrumentais, bandagens e aventais previamente fervidos. E sobretudo, após estudos e demonstrações criativas, derrubou por terra a tese vigente à época da “geração expontênea” (abiogênese). O que resultou de sua capacidade de foco e concentração salvou e continua a salvar, a partir do século XX, milhões de seres no planeta, prolongando-lhes a vida ou lhes dando mais qualidade.
Atualmente, o foco e a concentração está difícil até para os que a desejam para cumprir uma meta qualquer onde ela se faz necessária. Há uma dissipação geral estimulada por TVs e rádios próximos, a berrar, conversas inúteis, noticiários desestimulantes, redes sociais vazias, barulho de veículos, de aparelhos e de músicas sem alma. Restam as madrugadas, mas as madrugadas são dos amantes, dos poetas, dos insones, dos boêmios e dos aposentados...