sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Anotações sobre uma pequena e antiga viagem de carro pela nordestinidade

Nordeste brasileiro. Pequeno país! Se a Confederação do Equador tivesse sido vitoriosa seria um grande pais. Mesmo assim seus filhos ainda a consideram uma nação. Há algum tempo, fizemos, de carro, um tour pela região, parando em algumas cidades. Foi uma segunda viagem, após uma primeira, mais longa, onde fomos, também pelo litoral, até o Rio. Fiz algumas anotações e guardei-as no caderno das lembranças, na gaveta dos esquecimentos. Hoje, “sem ver nem prá crer”, lembrei-me de resgatá-las.

Recife: seu destino é ser prá lá de Veneza, mistura de Salvador com Fortaleza, com sua vida diurna e pouco noturna, cidade rica de quem muito trabalha e de muitos contrastes, se exibindo na orla, colar de prédios de luxo, e se deixando  mostrar em suas partes baixas nos Afogados. Caminhar em suas ruas e sentir o cheiro de camarão Pitu no ar é uma experiência ímpar, a olhar seu povo, um dos maiores caldeirões genéticos da face da terra, onde se mesclam índios, ameríndios, negros, mamelucos, portugueses e holandeses, com um só sotaque.

Oh linda Olinda: Não adianta o poder público te abandonar, o turista te sujar e Recife poluir teu mar. A cidade Maurícea está lá onde sempre estará, habitando o ideário popular, tendo saudades de Nassau como o povo português ainda sente de D.Sebastião, morto há séculos na batalha de Alquivir. Teu destino te parou no tempo, emparedado no formato de queijo no fortim de S.Francisco, construído em 1620. Teu carnaval é tão tradicional quanto único, como o feijão cozido que se serve com caipirinha.

Caruaru: capital do agreste, raízes de nordestinidade, refúgio de imigrantes italianos trotskistas e anarquistas no bom sentido político, berço de mascates e dos Nunes dos Bezerros, Itu do nordeste, onde tudo se faz maior – a maior feira livre do mundo, o maior São João do mundo, o maior forró do mundo, onde no Alto do Moura se concentra a maior população do mundo de artistas populares figurativos, centro de artes reconhecido pela UNESCO, onde ainda flutuando sobre macambiras, xiquexiques e mandacarus, flutua o espírito do saudoso Mestre Vitalino. 

Natal: nordeste – união, esquina do continente e um dos quatro pontos mais estratégicos do mundo, onde se respira o ar mais puro e renovável das Américas e onde, no auge da segunda guerra mundial, mocinhas da geração coca-cola perdiam sua virgindade para pracinhas de uma base americana. Onde o passado é conservado no exemplo de um forte símbolo e sinônimo de classe média florescente, inteligente e criativa, limpa e vibrante, conservadora e moderna, cidade pequeno-grande, exemplo para o resto do nordeste, incluindo Fortaleza. Onde tudo é turismo e inventividade. Onde um forte planejado em forma de estrela em 1597 por um padre jesuíta homenageia os Reis Magos. Tudo se transforma em turismo: o maior cajueiro do mundo e inclusive “a menor cachoeira do mundo”, que não passa da nascente sobre algumas pedras, de um pequeno riacho que se espalha e se espelha sobre um bar molhado de mesas e cadeiras e onde se comem camarões fritos apanhados no próprio riacho, acompanhados de caipirinha de caju. Onde andei de camelo como se fora no Egito ou um beduíno no deserto árabe.

Icó: uma Ouro Preto que não deu certo, única cidade do Brasil que, segundo a Wikipedia,   http://pt.wikipedia.org/wiki/Ic%C3%B3,  teve seu planejamento urbano realizado na corte de Lisboa, onde portugueses de Aracati, descendo pelo Jaguaribe e o afluente Rio Salgado, desembarcaram, trocaram bugingangas com os índios Tapuias da tribo dos ikós e, junto com os homens que vieram do baixo  rio São Francisco, plantaram e comerciaram algodão, criaram gado em suas pradarias e bodes nos seus serrotes. Construíram a terceira vila existente no Ceará do século XVII e um dos primeiros teatros do Brasil imperial: o Teatro da Ribeira dos Icós. Traída pela estrada de ferro de Baturité, que passou por sua cidade vizinha, Iguatu, Icó já morreu e não sabe, e nem ao menos sabe explorar seu potencial turístico barroco português. Até Lampião passou por lá de passagem. Dublê de Aracati. Anti-raízes...

Em algum lugar da passagem por essa nordestina estrada, existe à sua beirada, um açude de água potável, límpida e clara, com um bar ribeirinho onde a única decoração é uma imagem do meu padim padre Cícero, abrigado sob o contraste de telhas amarronzadas pelo tempo e o azul profundo do céu nordestino. A luz imensa de um sol amarelão cora tarrafas de pesca estendidas sobre a areia branca do chão. O dono, um homem gordo, corado e feliz, a rir sempre, pesca na hora e frita na cara do freguês, peixes de nomes estranhos, e corpos saborosos de se comer, acompanhados de aguardente de alambique caseiro, feito pelo avô do avô. Onde tudo é barato, até o passeio de canoa pelo açude que se oferece plácido ao banho revigorante.

Em algum lugar à beira do caminho, por toda uma manhã o dia se fez inesquecível! Viu, Neruda? “Confesso que vivi”...

Luar sobre Fortaleza

Luar sobre Fortaleza
Praia de Iracema

Lady Godiva

Lady Godiva

Info-Arte

Info-Arte
Verso e reverso

Fotopoema

Fotopoema
Nascimento

Fotopoema2

Fotopoema2
Picasso - Guernica

O Sudoku de Ant.Gaudi no portal da Sagrada Família em Barcelona

O Sudoku de Ant.Gaudi no portal da Sagrada Família em Barcelona
Qualquer soma nas colunas, nas linhas ou em X dá 33: a idade de Cristo na cruz!

Pensamento1

Pensamento1
Fanatismo

Dies irae dies ille

Dies irae dies ille

These foolish things

These foolish things

Tem dias...

Tem dias...
Tem dias!

Wicked game (Kris Izaac)

Wicked game (Kris Izaac)

Babalu

Babalu
Fotopoema

Festival de Natal - Lago Negro - Gramado-RS

Festival de Natal - Lago Negro - Gramado-RS
Nativitaten - um espetáculo que se renova e merece ser visto e revisto!