Assisti “O Planeta dos macacos: a origem” e após sentar a poeira luminosa da tela na mente, a dita cuja me alertou que o filme é baseado nas teorias do cientista holandês Adriaan Kortlandt, muito em voga na década de 70, embora o diretor Rupert Wyatt não lhe tenha dedicado uma só referência naquelas intermináveis linhas de fim de filme.

episódio ainda em uma cidade, aparentemente São Francisco?
O filme é bem diferente dos primeiros “Planeta dos Macacos” e dos subseqüentes seriados de TV pois tem muita ação e emoções inéditas. Seguramente pode vir a ser um “Cult”.
Onde entra Kortlandt e sua teoria científica?
Seus trabalhos começaram ainda na década de 30 e se estenderam por décadas, com pesquisas e publicações sobre a “hierarquia dos instintos”, quando se deu conta de características comuns entre os instintos humanos e os instintos de alguns animais, sobretudo grandes macacos.
Acesse o link para essa referência em:
Numa dessas pesquisas na África ele colocou um boneco que imitava uma pantera, com uma cabeça que se movia de um lado a outro por uma engrenagem como um motor de limpador de pára-brisas, diante de um bando de chimpanzés e estes a atacaram com bastões de madeira de árvores! “Foi um inferno!”, relatou um membro da expedição em publicações da época. “Os macacos, gritando e pulando - (exato como no filme) – armaram-se de cacêtes, avançaram para o pseudo-leopardo . Uns arrancavam galhos de árvores, desfolhavam-nas e erguiam-nas ameaçadoramente sobre a cabeça do animal; outros apanhavam pedras e lançavam sobre a fera”.
Tudo foi devidamente filmado e Adriaan considerou esse documento visual importante em seus trabalhos de pesquisa antropológica sobre a genealogia de homens e macacos. (Em 1972, (segundo a Wikipedia), o Prof. Kortlandt publicou em Amsterdam um livro sobre paleo-antropologia chamado “New perspectives on ape and human evolution” tendo continuado suas pesquisas sobre o assunto durante algumas décadas, tendo faleceu em 2009 aos 91 anos.
Outra tese de Kortlandt que o filme explora é que nos zoológicos os macacos demonstram possuir habilidades de que não se utilizam quando estão em liberdade, o que, na opinião dos cientistas, parece indicar que no ambiente natural, protegido pelas florestas, eles vivem muito abaixo do seu nível intelectual. Segundo Kortlandt, a inteligência e habilidade dos símios foi desenvolvida há uns 2 milhões de anos, quando habitavam as savanas e estepes, onde, como bípedes poderiam usar as mãos para defesa, caça e coleta. Disputando esse habitat com os humanos, foram por sua vez caçados, predados e perseguidos como “ladrões de bairro”.
Quando os grandes símios, (sobretudo os chimpanzés que têm uma carga genética quase idêntica à nossa), voltaram à floresta após milhares de anos de lutas, as habilidades que teriam desenvolvido nas estepes degeneraram, voltaram a ser vegetarianos, abandonaram em parte a caça e se adaptaram por questão de sobrevivência ao novo ambiente.(Darwin explica).
Apesar disso a Dra. Jane Goodall,(foto) primatóloga, etóloga e antropóloga britânica, que viveu durante 40 anos em meio a gorilas na Tanzânia observou macacos caçando antílopes nas pradarias circunvizinhas à floresta. Dian Fossey foi outra antropóloga que se dedicou à etologia dos gorilas e observou comportamentos semelhantes - veja o filme (imperdível): “Gorillas in the misty” (“Na montanha dos gorilas”).
“O Planeta dos macacos – a origem” mostra , em um ambiente hightech, o que parece ter sido uma realidade há alguns milhares de anos em habitats primitivos: as primeiras guerras da humanidade foram travadas entre homens e macacos. Os humanos armados de paus e pedras lascadas, os macacos, do que dispunham no ambiente, como mostrou Kortlandt. Claro que os símios sempre perdiam,e, depois das batalhas, banidos do lugar, e com a inteligência inferior a seus maiores inimigos, tiveram de deixar savanas e estepes e voltar às florestas onde sem dúvida poderiam estar mais protegidos dos confrontos.
Esse filme portanto não é totalmente sci-fi... tem um grande fundo de probabilidades reais...e para quem curte psicobiologia, neurociência e comportamento animal, um prato cheio!
Detalhe: Andy Sarkis, avatarizado na pele de Caesar, o chimpanzé, dá um show, melhor que o mocinho James Franco.
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Referências:
. Kortlandt, A. (1972) - New perspectives on ape and human evolution, Amsterdam, Stichting voor Psychobiologie.
. Kleindienst, M. R., Burton, F. D., & Kortlandt, A. (1975). On new perspectives on ape and human evolution. Current Anthropology, 16(4), 644-651. Link to article