Porque essa figura esdrúxula que já caiu no imaginário planetário da cristandade está tomando o lugar do aniversariante verdadeiro: Cristo?
A Wikipedia nos diz em seu site que essa rubra figura nada mais é que o ícone de um bispo nascido no século IV, em Patara, na Lícia, antiga região da atual Turquia.
Nicolau de Mira, dito o Taumaturgo, foi bispo em Mira, na Ásia Menor, no século IV. À época do império romano, sob o regime de Diocleciano, foi preso por se recusar a negar sua fé cristã. Sob o regime romano de Constantino, emigrou de Constantinopla (hoje Istambul) para a Rússia, onde, apesar de não mais exercer suas funções episcopais, se notabilizou por sua extrema caridade e sua preocupação com os pobres e crianças carentes.
Nicolau foi cognominado taumaturgo porque, em latim canônico, essa palavra significa “fazedor de milagres”. Conta a lenda que seu amor por crianças carentes e doentes era tanto que, por várias vezes, conseguiu até ressuscitá-las. Foi beatificado, santificado e eleito santo maior da Igreja Ortodoxa Russa e consagrado padroeiro da Rússia.
Uma questão intrigante: apesar de iconizado como símbolo do Natal, o verdadeiro dia de S.Nicolau no calendário católico apostólico romano e ortodoxo russo é 6 de Dezembro e não 24 de Dezembro, quando erroneamente é festejado a ponto de atualmente ofuscar o verdadeiro aniversariante!
Outra questão: São Nicolau, apesar de bispo, não andava vestido de vermelho nem era gordo como seu ícone aparenta. ao contrário, como era comum aos antigos cristãos e sobretudo dirigentes religiosos, fazia sacrifícios, jejuava bastante, era frugal na alimentação, peregrinava a pé por toda a região em sua missão evangélica e deveria se privar de muitos confortos, jamais poderia ter uma imagem de velho gordo e bonachão.
A imagem que impingem às crianças deve ser fruto do imaginário popular que atribui à época de Dezembro a época da colheita e da fartura na mesa.
Essa figura entretanto está se agigantando nos tempos atuais, consagrada pelo mercado, multiplicada em miríades pelo comércio, patrocinada pela indústria e estimulada pelos pais . Está roubando a cena e o significado da festividade: Natal, Noel, Natividad, Christmas, é aniversário de uma figura milhões de vezes maior, sem a qual não existiria nenhum São Nicolau. O verdadeiro Papai Noel, Papai Natal, o pai do aniversariante deveria ser, no mínimo, São José.
Ok, você venceu: São José não cuidou de muitas crianças carentes, apenas de uma, salvando-a da fúria de Herodes...
Na verdade o significado simbólico dessa figura mítica de um bom velhinho é o da idealização infantil de um velho e amável pai provedor, que nunca morre e sempre retorna anual e obrigatoriamente para a festa “natalina”, a ponto de se confundir com a própria festa e tomar o nome da própria festa – Papai Noel!
Vamos imaginar o seguinte: seu aniversário é comemorado todo ano por dezenas e depois centenas de amigos. E todo ano, invariavelmente, por anos seguidos, mesmo depois de você crescido, seu pai convida o palhaço Picolé para distribuir presentes para você, os convidados e as crianças do bairro. Aí em um dos seus últimos aniversários você se espanta: você foi esquecido em um canto, recebe poucos cumprimentos e quase nenhuma atenção, enquanto a mundiça toda celebra a grande figura do dia, travestido em um de seus milhares de clones e vestido de amarelo berrante, com um gorro verde abacate na cabeça, eis que desce de helicóptero para sua festa, sob fogos e os aplausos de toda a galera, nada mais nada menos que o grande, gordo, venerado e ansiosamente esperado Palhaço Picolé!
Você, o que faria?
Você, o que faria?