sábado, 25 de junho de 2011

Meia noite em Paris

Mais um filme "cabeça" escrito e dirigido por Woody Allen. Mesmo em seus filmes europeus: "Matchpoint", "Vicky, Christine, Barcelona" e agora com "Midnight in Paris", Allen não abandona sua exploração psicológica de caracteres e seus focos individuais em personagens. Rodando filmes em cidades ícones - Londres, Barcelona e Paris - ele não os transforma em peças turísticas para a telona. Apenas dá rápidos cliques cênicos para o espectador se localizar.

Em "Vicky, Christina..." você quase não vê ou revê a cidade. Você sente através dos personagens a apaixonada e arrebatadora cultura catalã. "Matchpoint" é um retrato da fleuma e da hipocrisia britânica. 

E agora com "Meia noite em Paris" não espere conhecer ou reconhecer a cidade-luz. Se vai com essa intenção, desista, esperançado turista, você vai querer seu dinheiro de volta.
"Meia noite..." é o filme mais cabeça de Woody Allen e a cidade com seus pontos turísticos quase não aparece a não ser em clipes nos primeiros minutos iniciais ou em locações que são indicativos importantes para os personagens. Esse é um filme sobre a cultura de Paris e não sobre Paris; sua herança cultural, o que ela representa para a humanidade e o que ela pode fazer para mudar a visão das pessoas. É um mergulho intelectual no passado secular da milenar Lutécia Parisiorum, velha cidade-luz. 
Um passeio onde se misturam ao mesmo tempo, presente, passado e futuro em uma viagem surrealista!
Justamente isso que é o filme: um passeio surrealista-cultural em Paris, em cenários sombrios, ocres e chuvosos, como a pintura francesa renascentista, com direito a escárnio sobre turistas endinheirados e pedantes que supostamente aprenderam sobre Paris em livros ou guias turísticos mas não a vivem nem viveram, que aproveitam o dia em piscinas de hotel ou visitas ao Monte San Michel.

Não assista ao filme se você não sabe quem foram ou não conhece a obra de: Hemingway, Gertrud Stein, Luis Buñuel, Scott Fitzgerald, e T.S. Elliot, entre outros. Não gosta de Cole Porter ou não aprecia a pintura  de Degas, Matisse, Picasso, Dali e muitos outros. Eles estão lá e são personagens do filme.

Dá para perceber  no rosto, ao acender das luzes finais, a desilusão de alguns que foram para "rever Paris" ou "ver a Carla Bruni", a ex-modelo mulher de Sarcozy, presidente da França - ela reprenta (e mal) o papel de uma guia turística de museu, em duas rápidas aparições. (Jogada de marketing?).

Agora entendo porque Woody Allen se afastou dos Estados Unidos para escrever e rodar filmes na Europa: Hollywood hoje só produz "scripts" medíocres. Filmes de ação onde impera a abundância de tiros e explosões, comédias escrachadas sem o menor pudor, com direito a toneladas de palavras de baixo calão, comédias românticas melosas para moiçolas sensíveis, filmes de terror chapado, repeteco de filmes B antigos, filmes catástrofes onde só um casal de americanos escapa ao fim do mundo , remakes de suspenses de sucesso ou uma safra comercial de desenhos que exploram comercialmente a nova onda 3-D.

Allen está acima disso tudo. É um Cineasta com C maiúsculo. Sua identificação com o personagem principal do "Midnight..."  é clara - Owen Wilson - o mesmo de "Marley e eu" - (agora mostrando a que veio e o que faz um bom diretor com um ator medíocre). 
Pode-se dizer, sem medo de errar, que o personagem de Owen representa parte da história pessoal de Woody Allen: um escritor que foge de seu ambiente insípido e pouco inspirador  para auferir lições dos grandes mestres in loco.


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