quinta-feira, 15 de maio de 2008
Saco de Sabedoria
Cícero e a velhice
PAULO NOGUEIRA - (Apud “Revista da Semana”)
O tema da velhice foi objeto de estudo de brilhantes filósofos ao longo dos tempos. Um dos melhores livros sobre o assunto foi escrito pelo pensador e orador romano Cícero: “A Arte do Envelhecimento”. Cícero nota primeiro que todas as idades têm seus encantos e suas dificuldades. E depois aponta para um paradoxo da humanidade. Todos sonhamos ter uma vida longa, o que significa viver muitos anos. Quando realizamos a meta em vez de celebrar o feito, nos atiramos a um estado de melancolia e amargura. "Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam" escreveu Cícero. "Eis aí a conseqüência da estupidez." Ler as palavras de Cícero sobre o envelhecimento pode ajudar a aceitar melhor a passagem do tempo. "Os velhos inteligentes agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade."
Permanecer intelectualmente ativo e uma forte recomendação de Cícero. "A memória declina se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito", disse, "as velhos sempre se lembram daquilo que os interessa: promessas, identidade de seus credores e devedores etc. "Cícero lembra que Sófocles em idade avançada ainda escrevia suas tragédias. No fim da vida, Sócrates aprendeu a tocar lira. Catão, na velhice, descobriu a literatura grega. Machado de Assis, para citar um brasileiro, aprendeu alemão também na velhice, na qual, aliás, escreveu seus melhores romances. "Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias", escreveu Cícero. "Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos e a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo."