segunda-feira, 8 de março de 2010

Os esquecidos da Semana de Arte Moderna de 1922

A semana de arte moderna que revolucionou a arte e a cultura brasileiras ainda continua sua influência e aqui e alí é retomada em movimentos que pipocam nas artes, principalmente na música.
O Tropicalismo de Caetano Veloso, Gilberto Gil, maestro Rogério Duprat, Tom Zé foi uma retomada típica dos movimentos da semana que mudou e mudará o Brasil por muitos anos ainda.
Movimentos Pau Brasil, Verde Amarelo, Anta, Antropofagismo, Tropicalismo são farinhas do mesmo saco. Derivam-se todos dos movimentos da Vanguarda Europeia do inicio do século XX, principalmente do futurismo de Marinetti, com raízes mais fincadas no Dadaísmo de Tzara, Picabia e outros, cuja praxe maior era a iconoclastia total dos ídolos franceses e seus deuses menores românticos e parnasianos. Uma destruição mais formal que conteudística. Uma tentativa de atualização moderna da forma mais que o combate ao fantasma romântico.

Proposta múltipla: destruir a roupa do romantismo naturalista à Hugo, Zola e Rousseau, travesti-lo com roupas modernas italianas e ao mesmo tempo de coloração verde-amarela para brincar um carnaval em todas as modalidades de arte, em todos os bailes da vida, durante uma semana, semana que perdura até hoje, fonte permanente de vários outros movimentos renovadores da estética!
Após quase um século da Semana, os movimentos ainda aparecem e desaparecem, quase todos com as mesmas características, seguindo o mesmo fio de raciocínio dos mentores da Semana, imbuídos do mesmo pensamento revolucionário, nacionalizante e modernizante na acepção plena e atual da palavra.

"Pipoca ali, pipoca além.
Desanoitece e amanhã, tudo mudou.” (Caetano Veloso)

Aparecem e desaparecem como fagulhas de uma memória nacional.
Alguns são injustiçados e prematura e perenemente esquecidos, demonstrando que a memória nacional é curta ou pelo menos tem os braços curtos, pois não atinge todas as regiões do país, sobretudo quando se trata de Nordeste. Mestre Joaquim Inojosa, por exemplo. Pernambucano, precursor e modernista, à época, nestas bandas. Quem dele se lembra? Porque não o citam? Porque não o divulgaram?
Em: “O Modernismo Brasileiro – A arte moderna”, Mestre Inojosa instaura em uma carta manifesto o modernismo no Nordeste brasileiro. A história desse movimento no Nordeste é relatada pelo próprio Inojosa tardiamente, em 1968 em : “O movimento modernista em Pernambuco”.

"Em fins de 1922, quando afirmei nesta c idade (Recife) que nada estávamos fazendo porque fazíamos tudo velho, acharam absurdas e até ridículas minhas asserções.  ...a renovação de que falo é inevitável e necessária.
Porque persistimos inertes ante a evolução do pensamento e das artes?
... estão chamando esse movimento modernista de futurista, mas no Brasil não há futurismo! ... A arte não tem passado nem futuro, tem presente. Realizemos a arte da hora atual. Guerra ao belo como objetivo único da arte."

Terá sido Inojosa um modernista marginal por sua nordestinidade? Ou por estar deslocado do eixo cultural café-com-leite Rio-Minas-São Paulo? Ou são os críticos e historiadores marginalizantes os marginais?


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