Talvez não tão doce!
Gaivota de asas pequenas, vôos curtos e passos minúsculos.
Empoleirada em árvore de poucos galhos e muitas raízes, terrivelmente presa a pouca terra e algum espaço.
A cabeça a pensar a mil e os sentidos a receber sensações embotadas, a antenar via indireta a vida dos outros e do mundo.
Uma gaivota que guarda nas asas o doce pássaro que foi, com todas as suas trajetórias de antigos vôos.
Ah, doce pássaro da juventude, de doces ilusões, a envelhecer vendo as penas a cair, lentamente, uma a uma, como folhas de outono. A se estranhar nos espelhos das águas.
Andando em pé por ter quebrado a asa, deslocam-se em agonia polifásica, transcendente de patologias...
O que resta a estes dantes “sweet birds of youth”? Pegar na igreja o arroz dos casamentos, como Eleanor
Rigby ou remendar meias ``a meia-noite como o Padre Mackenzie?
Nem uma coisa nem outra. Mesmo de asas partidas, voam e podem planejar novos rumos.
E recomeçam, pois o verdadeiro ciclo da terra é outro, não esse de trezentos e sessenta e cinco dias que fazem os anos.