quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O urso e a cobra - fábula à moda da casa.

Um urso cinzento, (Ursus arctos horribilis), passeava a passos largos por uma pequena floresta canadense próxima a um descampado, julgando-se o dono daquele habitat, tal qual um novo rico, contando mentalmente as vantagens de ser urso, alto, grande, poderoso. 
Elucubrava com seus botões, digo com seu umbigo, que em outra encarnação deveria ter sido um estrelado general.

Quem sabe Patton, Montgmery ou o grande general patrício Charles Foulkes?
   
Vaidoso, cabeça erguida, era um dos raros bípedes daquela floresta que tinha a cabeça nas nuvens e os pés firmes no chão. Achava que sua cabeça alcançava o céu, os picos das copas das árvores. Tinha a cabeça nas nuvens acima de todos os animais, até do rei. Julgava-se mais real do que o rei e ninguém, a não ser alguns humanos a quem aterrorizava e desprezava, podia ter um cérebro tão elevado fisicamente!

Logo, ao alcance de seu olhar estereoscópico, avista uma cobra, colorida, grande e matreira, arrastando-se sinuosamente por entre as folhas, no congestionado trânsito artrópode da pequena floresta. E prossegue impávido (não que nem Muhamed Ali pois dizem que este tinha medo de cobra!)


Altiva e imediatista, materialista desde o dia em que abominou a religião por lhe imputaram ser o pivô bíblico de um crime em que toda a humanidade foi envolvida e comprometida, a cobra achava que tinha os pés, (oops), digo, a cabeça, sempre no chão. Apesar de saber do seu poder mortífero andava depressiva julgando que seu triangular cérebro pertencia  ao solo poluído da floresta e invejava o grande urso marrom. Ninguém, mas ninguém mesmo, poderia ter a massa cefálica se arrastando tão baixo!

Ao ver de longe a sombra cinza, subiu rapidamente (o tanto que um rapidamente pode significar para um serpenteador) em uma árvore, quem sabe para preparar uma surpresa, quem sabe um susto (ou um abraço apertado) ao grande e pedante urso ou simplesmente se esconder e admirar do alto o porte altivo do arctídeo .

Eis que, de repente ambos se encontram frente a frente e com as cabeças na mesma altura, olho no olho, nem tanto no céu nem tanto na terra!

Moral da estória: a que se conseguir extrair dessa fábula nada esopeana, (deve ter alguma, as fábulas sempre têm).
Pequena dica: os romanos sempre afirmavam que “in médio virtus” – a virtude está no meio termo.

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