A maioria aposta que é o sorriso. Mas quem a viu de perto aposta no olhar.
Se você está do lado direito da sala ela te olha direto nos olhos, se você muda para o lado esquerdo ela te acompanha com o olhar e continua sorrindo a te fitar.
Como arte, ela não está só no grande salão apinhado de gente. À sua frente e à esquerda de quem entra, está o maior quadro do Louvre, “As Bodas de Canaã”, ocupando todo o retângulo da parede do salão da Mona Lisa, mas quase ninguém o vê, só teem olhos para a italiana de Da Vinci, e ela fita a todos, onde estiverem, com seu olhar transcendental, tipo portal de 4ª. dimensão, igual àqueles quadros bregas do Sagrado Coração de Jesus, feitos com vidros segmentados para parecerem 3-D, entronizados em algumas salas de casas do interior do Nordeste.
Alguns visitantes como eu se invocam e ficam andando de um lado para o outro, como a querer comprovar o fenômeno. Os que percebem apenas o sorriso ficam a bater contínuas fotos, mas, mesmo com a miríade de flashes a ricochetar no vidro à prova de balas, ela continua com um sorriso inflexível mas um olhar móvel e enigmático.