Nem sempre a voz da elite é a voz do povo.
Foi assim quando Juscelino Kubitschek planejou a construção de Brasília e a extrema direita da UDN, partido que representava a elite e a então oposição ao presidente, começou a gritar e esbravejar na mídia e a manipular os cordéis de jornalistas amestrados, alegando que se estava afundando a nação com dinheiro emprestado para construir uma cidade perdida no meio do nada!
Como seria se a capital federal ainda fosse atualmente no Rio? Prá começar o presidente teria de ter um papa-móvel, o Palácio do Catete não comportaria tantos deputados, lobistas e povo e o acesso seria inacessível na hora do rush.
Além disso o desenvolvimento dos estados do centro do pais ainda continuaria estagnado. A região centro-sul seria só de fazendas cujos donos continuariam morando no Rio.
Nem sempre a voz da elite representa a voz do povo.
Um caso clássico é o da Torre Eiffel. Em fevereiro de 1887 um jornal parisiense publicou um manifesto de pessoas do mundo das artes e das letras, que à época representavam a elite francesa, protestando contra a construção de uma "torre de ferro" de 320 metros de altura, em pleno Campo de Marte parisiense.
O manifesto dizia: "...nós, escritores, pintores, arquitetos e amantes da beleza até agora intacta de Paris, protestamos com toda nossa força, toda nossa indignação, ao nome da arte e da História francesa ameaçada, contra a construção, no coração de nossa capital, da inútil e monstruosa torre Eiffel, que a malícia pública, impregnada de bom senso e espírito de justiça já denominou de torre de Babel..."!
A bem da verdade, o que seria de Paris sem a torre Eiffel? A voz do povo entretanto tinha razão: é uma Babel. Milhares de pessoas de todas as nacionalidades da terra passam por ela e sobem seus degraus e elevadores todos os santos dias.
Qual a fonte dessa admiração senão, nas palavras do próprio Gustavo Eiffel: "a imensidade do esforço e a grandeza (e beleza) do resultado? Existe de resto, dentro do colosso, uma atração, um charme próprio, aos quais as teorias ordinárias da arte jamais serão aplicadas!"
Gustave Eiffel ergueu a estrutura metálica de 324 metros de altura, à época a a estrutura mais alta do mundo construida pelo homem, sem um pequeno acidente sequer
com nenhum operário durante sua construção.
A título de informação ao turista: a fila para comprar ingressos para subir ao primeiro andar, em dias normais, é de aproximadamente 2 horas de espera...ao último andar é de uma hora e meia, mas vale a pena, do alto você vê "tout Paris", em 360 graus, até aonde a vista alcança, mesmo sem usar os telescópios disponíveis e se for à noite, a visão é deslumbrante e vale a pena o cansaço da subida.
Mas a cena mais bonita mesmo é ver a própria torre iluminada, da praça do Trocadero!
Aí você repete a frase dos bem aventurados: ainda bem que não morri sem ver Paris... do mesmo modo como você joga uma moeda no lago iluminado do Palácio da Alvorada à noite, faz um desejo de sorte e depois, no fundo da alma, abençoa a memória de Juscelino e pensa que realmente a voz da elite não é a voz do povo.