Trabalhadores, funcionários e assalariados agradecem e se bendizem por mais um dolce fare niente no país dos feriados. Classes produtoras, bancos, indústria, comércio, profissionais liberais e cidadões esclarecidos, não, porque sabem dos bilhões de prejuízos implícitos.
O governo, deixando de arrecadar outros tantos milhões, fecha os olhos; sabe que amanhã arrecadará muito mais. Quatro dias de repouso, muito álcool e balada na recente Santa Semana não são suficientes! Afinal ninguém é de ferro, dizem.
Analisemos friamente esses feriados. O da semana dita “santa”, por exemplo – o país tem atualmente uma população de não católicos já beirando os 50% que não participa das liturgias católicas. Dos católicos, ainda maioria por pura estatística declarada em censo do IBGE e não por devoção, mais da metade também não participa dessa liturgia, prefere ao invés de procissões e cânticos, as liturgias pagãs: culto a Baco e às deusas do axé. Uma minoria insignificante, que por sinal nem trabalha, composta de idosos e crianças, comparece ao chamado de suas paróquias, principalmente as coloniais paróquias mineiras. Prá que o feriado então? E porque nem em Roma é feriado?
Difícil para os políticos cutucarem os calos da Católica Apostólica Romana. Quem se atreveria? E porque se eles próprios aproveitam os santos dias para visitar suas santas bases políticas ou o refresco dos mares do norte e do sul? Sem contar os que adoram os holofotes da mídia e aparecem na TV levando nas costas o andor de Jesus crucificado, como se ele próprio fosse um penitente.
Mal a gente se recupera de uma santa semana e vem logo a seguir outro feriado nacional: 21 de Abril! Dia da independência? Não, claro, dia do mártir da independência. Quem mesmo? Um dentista, (ou seria alferes?), bode expiatório de um movimento de revolta contra a “derrama” , imposto que sugava os ricos produtores (exploradores de minas e latifundiários) da colonial Minas Gerais, sediados em Vila Rica ( o nome já dizia tudo!).
Um movimento para libertar a nação do jugo imperial português? Não, Apenas um movimento de ricos senhores protestando contra a dita derrama, auto denominado “Inconfidência Mineira”, ou seja, contra impostos escorchantes tais quais esses que eu e você pagamos atualmente, tão ou mais elevados que os da antiga “derrama”...Que tal se aparecesse uma nova Inconfidência, uma “inconfidência nacional”, com uns 20 a 40 milhões de assinaturas de protesto contra essa derrama oficial gerenciada fria e rigidamente por uma entidade quase anônima denominada receita.fazenda.org.br?
O dito herói da dita Inconfidência mineira morreu para acabar com a derrama a nível nacional? Não, simplesmente contra altos impostos pela Corôa sobre ouro, diamante, outros minérios e compra de escravos nas Minas Gerais.
Porque o feriado nacional? A “derrama” nacional dos impostos foi abolida”? Não, claro. Essa Inconfidência não passava de um movimento regional, quase local, onde só os grandes burgueses, mineiros e fazendeiros entravam. Era um movimento nacional? Não. Era um movimento popular? Não. Porque então esse feriado? Comemoramos o que afinal? Até em Minas, atualmente, se comemora mais a vida e a morte de Tancredo Neves, o político de profissão e dinastia, do que propriamente a tal inconfidência.
Porque o feriado, repito a questão. Apenas para mais uma folguinha, mais uma bebedeira, mais um dia de sol, de faxina ou de praia, de muita cachaça e cerveja, abuso de drogas e aumento da criminalidade e da pletora de vítimas da violência nos corredores dos hospitais de urgência. Querem festejar seus pseudomártires? Que festejem, mas em nível regional ou mesmo estadual. Como no Ceará, por exemplo: o dia de S.José é um feriado apenas estadual.
Prestou atenção ao que escrevi acima? Pseudomártires... Eu até que acreditava na boa intenção dessa cambada revoltada, mas depois que folheei o livro do historiador André Figueiredo Rodrigues, “A Fortuna dos Inconfidentes”, uma pesquisa histórica exaustiva, (baseada não em ficção mas em documentos), alguns parágrafos já foram suficientes para que minha crença histórica nessa estória caísse por terra! Vários dos mitos, além de terem pés de barro, deveriam ter nas mãos algemas: eram corruptos e alguns, inclusive, faziam a festa com o dinheiro público. O que eles queriam mesmo era burlar impostos imperiais em benefício próprio!
Um tal Alvarenga Peixoto, que se dizia poeta, comprou um cargo de ouvidor e embolsou uma quantia enorme de dinheiro que ele dizia se destinava à luta contra espanhóis no Rio Grande do Sul! Bárbara Heliodora, sua mulher, é tida como heroína, pois após o “sacrifício” dos inconfidentes, ficou pobre e louca, vagando pelas ruas de Vila Rica... pura poesia! A tal Bárbara, segundo Rodrigues, permaneceu viva e muito viva, tinha muito dinheiro escondido no mocó, comprou fazendas e deixou uma enorme e abastada descendência.
Afinal, prá que o tal feriado de 21de Abril então? Só o macaco explica...