Pela quantidade e pela falta de etiqueta com que as pessoas o usam.
O baixo custo e o barateamento galopante dos aparelhos fizeram com que uma vasta camada de gente sem o menor polimento social passasse a usá-lo, a ponto de orelhões entrarem em desuso e cartões de telefone passarem a ser peças de colecionador.
Gente que ainda não aprendeu a comer de talher usa impunemente o celular!
Hoje mesmo me aproximei de uma prateleira de supermercado para olhar uma mercadoria quando levei o maior susto: uma jovem que passava pelo corredor atrás de mim gritou em alto e mau tom palavras desaforadas, provavelmente ao namorado, ou quiçá, infeliz marido, a ponto de todos se virarem como a procurar de que fonte vinham os impropérios.
Dirigi-me à prateleira das frutas mas não conseguir nem escolher uma banana. Bem em frente, defronte às laranjas, uma desvairada duelava verbalmente pelo telefone aos gritos com a mãe. De longe, julgar-se-ia uma louca a chamar as surdas laranjas a gritos de “mamãe, me escute...”
No cinema, no melhor da cena, tem sempre um rebelde que, apesar das advertências iniciais explicitadas na tela antes do início do filme, não o desliga e atende-o nem que seja prá combinar qualquer programa depois da sessão.
No trânsito e nas estradas, envolvem-se em acidentes atendendo celulares.
No trabalho, todos os colegas já sabem dos pormenores e dos podres da vida de todos de tanto se ouvir confidências em celulares.
O chato mesmo é estar parado em alguma fila e ouvir um chato desfiando pelo aparelho um papo não menos chato, discursivo e interminável, que se arrasta mais lento que a própria fila.
Com introdução de planos pelas operadoras, democratizou tanto que apareceu um fenômeno quase impossível há algum tempo atrás: o trote pelo celular. Faça seu plano pela operadora X, pagando apenas míseros reais e fala de graça para qualquer telefone fixo... e aí a vagabundagem que além de se drogar não tem o que fazer, liga prá você pelo simples prazer de lhe tirar, de lhe trotear! Pelo tamanho cada vez menor e a facilidade de se introduzir em presídios, até o vice-presidente da República do Brasil, o honrado e sereno Sr. José Alencar, foi vítima recente de sequestro virtual de presidiários portadores de celulares, apesar de proclamados “esforços” de autoridades para acabar com esse crime que aumenta a cada dia.
Celulares deveriam vir acompanhados de um manual de etiqueta para seu uso. Deveriam ser vendidos junto com um contrato com algumas regras sociais de utilização. E uma advertência do tipo: “o descumprimento dessa etiqueta básica pode acarretar a apreensão do aparelho por órgãos competentes”.