segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pequena introdução a um tratado sobre o jacaré humano

Jacaré é um adjetivo/substantivo substantivamente presente no dia-a-dia dos humanos modernos. Há vezes em que um humano, não mais que de repente, pode se tornar um jacaré em fugaz e breve metamorfose. Na maioria das vezes um jacaré humano já nasce definitivamente metamorfoseado.

A principal etiogenia do jacareismo é a educação. A má educação ou a educação imperfeita é que dá a duração das crises, de breves e situacionais a estado definitivo de jacaré completo e acabado.

Reconhecer um jacaré ou perceber se você mesmo já tem traços ou já e o próprio não é fácil, mas alguns itens são denunciantes.

A seguir, a compilação de situações que, segundo estudiosos de etologia animal e comportamento social atuantes nesse país, denunciam, ou pelo menos, dão uma pista do que é essa nova ciência que caracteriza essa fauna, a jacareologia ou “aligatory” como já é conhecida na ciência alternativa...  

Um jacaré verdadeiro adora obstruir passagens e caminhos; corredores e acessos são seus preferidos; de preferência em bandos, em magotes dispostos em linha horizontal, como num arrastão em sua direção; cuidado, pois para um jaca, você é invisível, eles te abalroam ou te atropelam sem a menor cerimônia ou pedido de desculpa.

Por essas alturas você já pensou que um jacaré é simplesmente um mal educado, um “impolited”; pode ser, mas um mal educado não é sinônimo. Um jacaré é algo mais. Talvez um “cronópio” como o tacharia Julio Cortázar.

As situações onde o jacaré mais se manifesta, ou nas quais você pode liberar um jaca de dentro de você, estão no trânsito.

Por exemplo, querendo sair de um estacionamento qualquer ou de uma garagem de casa ou edifício, aguardando uma oportunidade há intermináveis minutos, de repente vislumbra uma oportunidade, um carro vem próximo mas dá prá sair, mas aí quem vem no nesse carro? Claro, um Jaca-DT (de trânsito), e aí que que ele faz? Claro, acelera com vontade e ainda dá uma paradinha na sua frente obstruindo sua saída. Ele está de acordo com o pensamento padrão jacareista: ocupar todos os espaços possíveis, pensar que todos os espaços do universo são de seu uso exclusivo!

Uma de suas variantes é o Jaca-Buzinador, aquele que em trânsito, adora buzina. Buzinar por buzinar. Não aquela buzina simples, de aviso, mas aquela longa, repetida, acionada para acordar os monges no Tibet. E se ouvires buzinas estridentes à noite, pronto, fotografaste mentalmente o tipo. Se próximo a um hospital, foto completa e sem retoques, com todos os dentes de fora.

E se um DT definitivo vai à tua frente e você necessita ultrapassá-lo, nem tente buzinar ou dar sinal, ele pensa que está em uma “race”, numa competição, jacas têm complexo de Ayrton Senna ! Os mais aguerridos não dão passagem nem prá ambulâncias. O paciente morre lá dentro, a ambulância grita a sirene à vontade mas ele se planta na frente, se fazendo de surdo.

O Jaca-Rubens é o contrário do anterior: num fluxo de 60 ou 80 km/h ele viaja a no máximo 40, fazendo toda a fila perder os sinais verdes.

Já o Jaca-QQQA (quem quiser que advinhe), não sinaliza prá nada nem ninguém. Quem quiser que advinhe se ele vai dobrar ou frear. Com um desses à frente todo cuidado é pouco, melhor mesmo é manter a distância regulamentar, do contrário quem vai acabar tendo razão é ele. A lei o protege! Mas cuidado com as variantes do QQQA: o Jaca-ciclista ou o Jaca-moto. Eles se esgueiram de fininho entre os carros, e se arranhar, arranhou, azar o seu. O Jaca-ciclista vai de preferência na contra-mão e atravessando faixas de pedestres com sinal fechado.

Como vemos, o trânsito é o fator etio-patogênico mais causal para denunciar um uma variante de jaca ou simplesmente descobrir que você já faz parte da fauna.

Ainda existem mais n tipos. Na fila de caixa de um serviço qualquer, por exemplo, após um jacaré ser atendido ele age como se o caixa fosse seu exclusivamente: planta-se lá, abre bolsa, fecha bolsa, pega papel, guarda papel, arruma a carteira e ainda entabula uma última prosa com o caixa, é o Jaca-mané.

O bom jacaré sempre abre uma porta de um recinto pela banda esquerda, empurrando-a para dentro em direção a quem vem, pagando mico sem pedir desculpas. 

Jacaré não tem classe econômica definida, pode ser A,B,C,D ou E.

Um bem conhecido e pagador de mico é o Jacaré-Cel, o jaca gritante de celular no ouvido, apregoando em alto e bom tom sua tola conversa, suas mazelas, suas demandas, como se o interlocutor fosse mouco e os circunstantes, interessados em seu papo gritado.

Mas jacaré fichado de placa e carteirinha é aquele que abre o som do carro em alto volume, como se o mundo também estivesse interessado em ouvir suas músicas bregas e, se está parado, abre as portas do carro, se em trânsito, desfila pela cidade impune à lei do silêncio e aos decibéis ensurdecedores. A carteirinha Nº 1 é a do Jaca-Placa 001, aquele vai com carro, som e tudo a uma praia pouco freqüentada. As pessoas estão lá curtindo numa boa, a brisa, o marolar das ondas, aí ele chega, tira apetrechos e liga o sonzão de maneira que os barcos ao largo também escutem, se aboleta e desaboleta os circunstantes...

Jaca-help é o que mal a gente entra em uma loja, pensando que está à vontade, às vezes apenas para olhar novidades mais de perto, ele já vai perguntando, com aquela voz que parece vir detrás do caixa: quer ajuda?... se dizemos não, ele fica nos acompanhando, com a quase certeza de que todos os fregueses são cleptomaníacos; se dizemos sim, logo ele nos abarrota de coisas que definitivamente não queríamos ou trata de sutilmente sermos despachados o quanto antes da loja evem com aquela indefectível e robotizada frase: “deseja mais alguma coisa?”. Se compramos calças, ele oferece meias ou cuecas, se camisas, calças.

O tratado poderia preencher páginas e páginas, poderia até ser objeto de uma monografia de sociologia, mas como blog é blog, espero que você, paciente leitor que nos acompanhou até aqui e que conhece outros tipos, mande sua colaboração.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O poder da palavra

Não curto P.Coelho, mas o texto abaixo, garimpado em um jornal, traz uma reflexão sobre o poder da palavra que também é tema de um Haikai que fiz há algum tempo atrás (veja colunas ao lado) e me permiti transcrevê-lo porque traz uma verdade universal: a capacidade de destruição da palavra!

"De todas as poderosas armas de destruição que o homem é capaz de usar a mais infalível e a mais covarde é a palavra. Punhais e armas de fogo deixam vestígios de sangue. Bombas abalam edifícios e ruas. Venenos terminam sendo detectados. Mas a palavra destruidora desperta o Mal sem deixar pistas. Crianças são condicionadas durante anos pelos pais, artistas são impiedosamente criticados, mulheres são sistematicamente massacradas pelos comentários dos maridos, fiéis são mantidos longe da religião por aqueles que se julgam capazes de interpretar a voz de Deus. Procure ver se você está utilizando esta arma e ver se estão utilizando esta arma em você. E não permita nenhuma das duas coisas."

 (“Ser como o rio que flui” – Paulo Coelho, apud coluna do jornal Diário do Nordeste, Abril/09)

quarta-feira, 25 de março de 2009

English Micos - palavras pegadinhas em inglês

Café: local público onde se faz e se vende café e/ou lanches.
(Mesmo nome que em português, espanhol ou francês!).
Mas se for em uma universidade: cafeteria. Se for em um shopping: coffee shop. Se é um bar com fast food: coffee bar.
Se um anglo-saxão espirrar perto de você, não diga health (saúde). É mico. Diga God bless you! Isso mesmo - Deus te abençõe!
Se estás em terras alheias e sentires dor no coração, ao procurar um médico jamais diga que está sentindo uma dor no coração como sendo uma heartache - ele rirá de você porque heartache é dor de côrno, diga a pain in the heart...
Nunca chame um botequim de restaurant ou little restaurant ou bar
O nome (em inglês) é tão esculhambado quanto esses locais: greasy spoon... (isso mesmo, colher sebenta). A propósito, um pequeno restaurante, tipo mambembe, é: diner (com um só n mesmo, para diferenciar de dinner, jantar chique!). 
Música brega não é brega , é tacky.
Mesada não é table in the head, é allowance.
Fila não é file, file é arquivo; fila é line ou queue. Mas se for uma fila indiana pode dizer single file que está correto!
Propaganda (em inglês) é só de natureza política. Advertisement é que é a verdadeira propaganda.
Voce está na beira-mar ou praia, aí você oferece coconut water a ele/a. E o/a  gringo/a além de não aceitar vai rir do mico porque água de coco é coconut milk (isso mesmo, leite de côco), enquanto leite de côco não é coconut milk, é coconut cream ou coconut juice.
Confuso? Inglês é tão fácil que tinha de confundir um pouco prá valorizar e pegar os not well educated.
A propósito, bad educated (mal educado) significa que alguém é analfabeto, enquanto impolite é mal educado mesmo. Realmente actually é realmente e não atualmente!
E se um gringo disser prá você que sua cidade é one horse town, ele não está gozando a cidade ou dizendo que por exemplo, a cidade só tem um cavalo. O que ele está querendo dizer é que a cidade é pequena, em comparação com alguma outra. Se pretende fazer algo, não diga pretend, pois isso significa que o que você pretende realmente é fingir!
Tem muito mais, e se você encontrar mais algumas, mande prá cá postando um comment que será publicado com os devidos créditos.

sábado, 21 de março de 2009

Taí um Oscar bem merecido

"Quem quer ser um milionário", de Danny Boyle, mereceu realmente os 8 Oscars, os 4 Globos de ouro, os 7 prêmios do BAFTA e 1 prêmio do festival de Toronto. Tem tudo o que se deseja a ir a um cinema: bom script, muita ação, suspense, aspectos socio-culturais locais com valores universais, personagens psicologicamente fortes, bons atores (mirins e adultos) e como pano de fundo, um belo romance à moda antiga, quase impossível tendo como estorvo uma situação atual em bom estilo "naif". 
Há muito não se produzia um filme com tal padrão, englobando todos esses valores com uma fotografia de nível e uma câmara que se move de acordo com o desenrolar da ação.
Enfim, quem sabe faz, e bem feito. Gasta-se apenas 15 milhões de $ e fatura-se o quíntuplo (ou mais, quem saberá)!.
A estória é baseada num livro de um autor (ainda) obscuro de nome Vikas Swarup.
Interessante é a mistura de linguas nos diálogos: Hindi e Inglês.
A trilha sonora foi composta em apenas 20 dias mas é surpreendente!
E preste atenção, no final do filme tem uma "gag": um rápido musical numa espécie de jardim, mas a plateia desse musical é composta de todo o elenco do filme...
O troféu ridículo vai para a Mercedes Benz que mandou tirar o logotipo das Mercedes que aparecem em cenas de favela.
Resumindo, se ainda não assistiu, vá, filme bom a gente vê em telona. Mas não espere encontrar "o caminho das Índias"...
Mas o bom mesmo é constatar que o Oscar voltou ao original, fugindo da suspeita de jogada comercial de estúdios.

terça-feira, 3 de março de 2009

O outro cão d´agua de Obama

A secretária de Estado americana Hillary Clinton, em sua primeira visita ao Oriente Médio desde que assumiu o cargo, falou novamente sobre o "apoio inabalável" dos Estados Unidos a Israel, depois de uma reunião com o presidente israelense Shimon Peres.

"Quero enfatizar a contínua força da relação Estados Unidos - Israel (...), e nosso compromisso inflexível com a segurança de Israel", disse.

Ou seja, USA usa suas secretárias de estado como cães de guarda fiéis na defesa de Israel, sua ponta-de-lança imperial no meio do Oriente médio.

Será mesmo um outro cão dágua ou uma nova pitbush albina?

domingo, 1 de março de 2009

Conselhos de viagem

Se vai fazer uma grande viagem de avião veja alguns conselhos úteis de jornalistas do jornal Los Angeles Times e outros que eu mesmo acrescentei:
Passagens com conexão aumentam o risco de atrasos e perdas de bagagem.
Se a viagem tem vários trechos, compre-os todos da mesma companhia aérea porque se você perder a conexão a responsabilidade dela é maior.
Cada país e cada empresa tem regras próprias a respeito de bagagens e volumes, certifique-se antes.
O melhor horário e dia para viajar é 3a, 4a e sábado pela manhã.
Tenha sempre em mãos os telefones dos hotéis, da companhia aérea, da empresa de turismo e dos consulados estrangeiros, com respectivos endereços.
Se vai para a Europa não adianta levar traveller cheques, pois lá praticamente ninguem aceita, são mais seguros mas servem apenas para voce trocar em casas de câmbio e pagando ágio, é mico.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma coisa puxou a outra?

        
                                                  
                * Loyola Brandão                           
                  ("Zero")                                        
                  se inspirou (?) em:                             
                                                                  
                * John dos Passos                                 
                  ("1919")                                        
                  que se inspirou(?) em:                          
                                                                  
                * Pudovkin e Eisenstein                           
                  ("O encouraçado Potyenkin")                     
                  que se inspirou (?) em:                         
                                                                  
                * Ibsen                                           
                  ("Espectros")                                   
                  que se inspirou (?) em:                         
                                                                  
                * James Joyce                                     
                  ("Ulisses")                                     
                  que se inspirou (?) em:                         
                                                                  
                * Pirandello                                      
                  ("Espectros da vida e da morte")                
                  que se inspirou (?) em:                         
                                                                  
                  ? (Ou tudo parece!  
       Ou uma coisa puxou outra,                            
                       Ou não tem nada a ver?)   

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Viagem zen

Cruzar os mares,
ir pelos ares,
tanto faz,
a real viagem
é a interior.
Do zen ao zoom,
do bit ao boom,
em um segundo
se percorre o mundo.
Ou o nada,
como uma fada
ao modo inverso
transformando em cinza
as cores do universo.
Do verso ao reverso
do outro lado do ter
o que importa é ser 
e estar atento
para o viver.
Winston
"Ser é unir-se a sí mesmo e unir-se aos outros"
(Teilhard de Chardin)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Doença do sono também é uma DST!

Qualquer estudante de medicina sabe que a doença do sono, muito comum na África, é transmitida pela picada de uma mosca, a Tsé-Tsé.
O que poucos médicos sabem entretanto é que a Doença do sono também é uma DST, doença sexualmente transmissível, e pode ser transmitida por agulhas contaminadas, transfusão de sangue e relação sexual com paciente infectado pelo tripanossoma, mesmo que ele seja assintomático.
A Revista médica "The Lancet", de Janeiro de 2004, descreve um caso: um brasileiro que esteve em Angola e passou a morar em Lisboa, contaminou sua parceira, uma portuguesa que nunca foi à África, com a doença do sono da qual era portador assintomático.
O artigo científico deduz que o contágio pelo Tripanossoma foi sexual e que portanto deve-se alertar para mais um tipo de DST que pode ser comum em imigrantes africanos ou estrangeiros que de algum modo vitem algum país da África, e, mesmo prevenindo-se contra outras DST´s, possam eventualmente ser piacados pela tsé-tsé e serem portadores inclusive assintomáticos.
Em um dos episódios do seriado americano House, Dr. House e seus pupilos "quebram cabeças" para desvendar um caso de doença do sono sexualmente transmitida a uma paciente.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O conceito de caridade em Eça de Queiros

"Todos nós que vivemos neste planeta formamos uma imensa caravana que marcha confusamente para o nada.
Cerca-nos uma natureza inconsciente, mortal como nós, que não nos entende e nem sequer nos vê e donde não podemos esperar nem socorro nem consolação.
Só nos resta este secular preceito, súmula divina de toda a experiência humana: ajudai-vos uns aos outros!
Que na tumultuosa caminhada portanto, onde passos sem conta se misturam, cada um ceda metade de seu pão ao que tem fome, estenda metade do seu manto ao que tem frio, acuda com o braço o que vai tropeçar e poupe o corpo daquele que já tombou.
Só assim conseguiremos dar alguma beleza e alguma dignidade a esta escura debandada em direção à morte..." 
("A correspondência de Fradique Mendes")

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A voz da elite não é a voz do povo

Nem sempre a voz da elite é a voz do povo. Foi assim quando Juscelino Kubitschek planejou a construção de Brasília e a extrema direita da UDN, partido que representava a elite e a então oposição ao presidente, começou a gritar e esbravejar na mídia e a manipular os cordéis de jornalistas amestrados, alegando que se estava afundando a nação com dinheiro emprestado para construir uma cidade perdida no meio do nada! Como seria se a capital federal ainda fosse atualmente no Rio? Prá começar o presidente teria de ter um papa-móvel, o Palácio do Catete não comportaria tantos deputados, lobistas e povo e o acesso seria inacessível na hora do rush.
Além disso o desenvolvimento dos estados do centro do pais ainda continuaria estagnado. A região centro-sul seria só de fazendas cujos donos continuariam morando no Rio. Nem sempre a voz da elite representa a voz do povo.
Um caso clássico é o da Torre Eiffel. Em fevereiro de 1887 um jornal parisiense publicou um manifesto de pessoas do mundo das artes e das letras, que à época representavam a elite francesa, protestando contra a construção de uma "torre de ferro" de 320 metros de altura, em pleno Campo de Marte parisiense.
O manifesto dizia: "...nós, escritores, pintores, arquitetos e amantes da beleza até agora intacta de Paris, protestamos com toda nossa força, toda nossa indignação, ao nome da arte e da História francesa ameaçada, contra a construção, no coração de nossa capital, da inútil e monstruosa torre Eiffel, que a malícia pública, impregnada de bom senso e espírito de justiça já denominou de torre de Babel..."! A bem da verdade, o que seria de Paris sem a torre Eiffel? A voz do povo entretanto tinha razão: é uma Babel. Milhares de pessoas de todas as nacionalidades da terra passam por ela  e sobem seus degraus e elevadores todos os santos dias.
Qual a fonte dessa admiração senão, nas palavras do próprio Gustavo Eiffel: "a imensidade do esforço e a grandeza (e beleza) do resultado? Existe de resto, dentro do colosso, uma atração, um charme próprio, aos quais as teorias ordinárias da arte jamais serão aplicadas!"
Gustave Eiffel ergueu a estrutura metálica de 324 metros de altura, à época a a estrutura mais alta do mundo construida pelo homem, sem um pequeno acidente sequer com nenhum operário durante sua construção. A título de informação ao turista: a fila para comprar ingressos para subir ao primeiro andar, em dias normais, é de aproximadamente 2 horas de espera...ao último andar é de uma hora e meia, mas vale a pena, do alto você vê "tout Paris", em 360 graus, até aonde a vista alcança, mesmo sem usar os telescópios disponíveis e se for à noite, a visão é deslumbrante e vale a pena o cansaço da subida.
Mas a cena mais bonita mesmo é ver a própria torre iluminada, da praça do Trocadero! Aí você repete a frase dos bem aventurados: ainda bem que não morri sem ver Paris... do mesmo modo como você joga uma moeda no lago iluminado do Palácio da Alvorada à noite, faz um desejo de sorte e depois, no fundo da alma, abençoa a memória de Juscelino e pensa que realmente a voz da elite não é a voz do povo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Fradique Mendes, um internauta em 1900

Se Fradique Mendes, o personagem de Eça de Queirós em “Correspondência de Fradique Mendes, (Porto, 1900), vivesse nos tempos modernos seria um internauta viciado em sites e Blogs!

Leia-se o parágrafo abaixo, exarado por Fradique (ibidem):

“...só me resta ser um homem que passa através de idéias e fatos, infinitamente curioso e atento! A egoísta ocupação do meu espírito hoje consiste em se acercar de uma idéia ou um fato, deslizar suavemente para dentro, percorrê-los mudamente, explorar-lhes o inédito, gozar as surpresas e emoções intelectuais que possam dar, recolher com cuidado algum ensino ou parcela de verdade e sair, passar a outro fato ou outra idéia com vagar e com paz, como se percorresse uma a uma as cidades de um pais de arte e luxo, como turista da inteligência”! (Eça de Queirós)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA

Revendo-se o discreto charme de um filme típico de Luis Bunuel, realizado em 1972 percebe-se que o filme continua uma parábola onírica atual, enigmática e ao mesmo tempo contundente sobre o clero e a burguesia.

Um clássico mundial do cineasta espanhol onde o inusitado e o insólito marcam cenas aparentemente surrealistas mas de uma clara lição a quem souber lê-las, como um analista em uma sessão psicoterápica, embora impregnadas de aspectos e pensamentos da esquerda da década de 70, pós barricadas parisienses de 1968.

25 cenas se dispõem como um"puzzle", um brinquedo de montar em 25 sessões de catarse. Seis personagens principais representados por atores desconhecidos, no melhor estilo Pasolini parecem dispensar o próprio Buñuel na direção.

Não é um filme para ser visto. É um filme para ser revisto no bom figurino "Cult".

Há tantas leituras possíveis quantas prováveis! O filme começa realmente na cena 2 e Buñuel dá seu recado mais importante entre a 2ª. e a 13ª cenas.

CENA 2: Restaurante.

O dono morreu, mas o restaurante abre como se nada tivesse acontecido! Show must go on.

Ao autor e atores não interessam pessoas ou verdades pessoais, interessa a arte em si, esta não deve faltar. O autor se despoja ao entrar para o altar da arte. O show deve continuar.

CENA 3: O burguês,

representante da elite do terceiro mundo, atira no cão de brinquedo alegando que a dona é terrorista. O velho chavão das ditaduras paranóicas da América latina.

CENA 4 : A droga,

trazida de contrabando pelo embaixador dos Estados Unidos. As elites também praticam seus pequenos (?) crimes. A elite corrupta sempre tira partido de sua posição política/social mas age discretamente, "comme il faut".

CENA 5: A casa.

Chegam as visitas, amigos, para um jantar que não se realizará.

Os anfitriões fazem sexo escondidos no jardim. (As amizades são superficiais e de conveniência.) São menos importantes que um ato sexual. Os visitantes aguardam e bebem enquanto discutem a forma certa dos copos de cristal para determinadas bebidas como se esse "savoir-faire" fosse a coisa mais importante do mundo.

CENA 6 : Os anfitriões.

Escondidos num mal cuidado jardim, fazem sexo, alheios ao que se passa em sua casa. (Buñuel tenta mostrar que para um bom burguês, casa não tem o mesmo sentido de lar. Para a burguesia, lar-doce-lar é uma frase inventada pela classe média. Casa é apenas o espaço que hora se ocupa.

CENA 7: A frase clichê:

“Nenhum sistema pode dar educação ao povo". (Mas educação, para o interlocutor, é apenas uma questão de etiqueta: saber como beber preparar e beber um Dry Martini. Para corroborar a tese, testam o motorista). Cansados de esperar os donos da casa, decidem ir embora, menos pelo casal, mais pelo tédio.

CENA 8 : A Igreja,

na pele do bispo da Diocese, chega a humildemente à casa para servir à burguesia como um simples lacaio (jardineiro). A burguesia o expulsa. Ele não aparenta nenhuma autoridade com suas roupas de pároco de aldeia. (O hábito faz o monge). Mas o bispo se veste de bispo e alega que a Igreja mudou e agora é bem aceito para servir à burguesia como um mero jardineiro, afirmando que aprendeu jardinagem por tradição - manutenção do "status quo" - tradição é a palavra chave para a burguesia. (Aqui uma linguagem explícita, quase brega do chavão socialista: a Igreja lacaia do capitalismo).

CENA 10: Uma orquestra de velhos

toca em uma casa de chá, (mito de eunucos em harém). As mulheres se reúnem para o ócio típico das dondocas: a vida alheia e o papo furado.

CENA 11: O onirismo à La Dali:

Um militar se aproxima e conta sua história onírica: um pesadelo em que sempre a mãe morta relatando ao filho sua (dela) traição. O militar é o superego feminino a amedrontá -las com o mito da maternidade maculada.

CENA 13: A traição.

Uma das mulheres tem um encontro amoroso no quarto do embaixador. Chega o marido para dar uma notícia ao embaixador. A mulher pergunta:

- Quem está ai?

- É seu marido, responde o embaixador.

(A infidelidade é normal) (?).

E o resto é com quem quiser rever esse “Cult”.

Mas o que é que essa italiana tem?

A maioria aposta que é o sorriso. Mas quem a viu de perto aposta no olhar.

Se você está do lado direito da sala ela te olha direto nos olhos, se você muda para o lado esquerdo ela te acompanha com o olhar e continua sorrindo a te fitar.

Como arte, ela não está só no grande salão apinhado de gente. À sua frente e à esquerda de quem entra, está o maior quadro do Louvre, “As Bodas de Canaã”, ocupando todo o retângulo da parede do salão da Mona Lisa, mas quase ninguém o vê, só teem olhos para a italiana de Da Vinci, e ela fita a todos, onde estiverem, com seu olhar transcendental, tipo portal de 4ª. dimensão, igual àqueles quadros bregas do Sagrado Coração de Jesus, feitos com vidros segmentados para parecerem 3-D,  entronizados  em algumas salas de casas do interior do Nordeste.

Alguns visitantes como eu se invocam e ficam andando de um lado para o outro, como a querer comprovar o fenômeno. Os que percebem apenas o sorriso ficam a bater contínuas fotos, mas, mesmo com a miríade de flashes a ricochetar no vidro à prova de balas, ela continua com um sorriso inflexível mas um olhar móvel e enigmático.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Parêntese para Cortázar

Ecumênicos sine die

Les bourgeois c'est comme les cochons,

Plus que ça grandit, plus que ça devient can.

(Canção francesa)

Nunca vou entender por que insultam os burgueses. Se você reparar bem, eles são os autênticos cidadãos do mundo. Como, não? Um burguês venezuelano, um espanhol, um francês e um da Arábia Saudita são muito mais unidos que um comunista chinês, um peruano e um russo. Estes podem ser comunistas até dizer chega, mas um nacionalismo acérrimo os separa para sempre. Em compensação os burgueses têm uma única pátria que é a burguesia, e dentro dela a distribuição do mobiliário é idêntica: aqui a grana, aqui a religião, lá a moral sexual, mais para lá a camisa listrada. Só falta falarem em latim para manter viva aquela universalidade tão sonhada que ao que parece existia na Idade Média, mas agora com as máquinas de traduzir, Mac Luhan e o inglês em vinte lições, logo, logo não vai haver problema.

(Julio Cortázar – “Último Round” – Tomo II)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Rei, Handel e você

Ouça a "Suite Aquática" de Handel, de preferência deitado (no sofá, no chão ou numa rede) e sinta-se o próprio Rei George I da Inglaterra no dia da coroação, quando os músicos, no barco real, desciam e subiam o Tâmisa ouvindo a "Water Music" feita por Handel de encomenda  para aquele dia.
O rei gostou tanto que fez a procissão de barcos ir de Westminster a Chelsea e de Chelsea ao palácio por tres vezes!  De tanto embalo em seu barco, digo, sua rede ou seu sofá, você também se embalará por tres vezes... 
Mas o número 2 da suite (a do em Fá mior), lhe agradará mais e dará prá você relaxar e se embalar mais tres vezes, apesar de que a Abertura da suite número 1 lhe fazer sentir o próprio rei em dia de coroação, aí você poderá como tal tomar atitudes de rei, por exemplo: pedir a alguém que lhe traga urgente uma cerveja com média espuma numa taça (quem sabe acompanhada de alguns salgadinhos?). 
Os oboés parecem flautas de índios xavantes em dia de toré, ressoando como se tocadas do fundo de águas suaves, claras e de doces ondas, como em rios de antanho, sem poluição, como deve ter sido o Tâmisa no dia da coroação do George e que inspiravam em Handel músicas como essa Suite Aquática, digna de ser ouvida por qualquer ser humano ainda não condicionado por créus e bels, por loiras gasguitas e músicos desvairados, pessoas que queiram se sentir como um rei, mesmo por alguns minutos, de bem com a vida, com os ouvidos, com a natureza e com a humanidade.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tempo e vida

O tempo correndo liso e branco,
os dias correndo quentes e pegajosos.
Às vêzes me palpo prá ver se estou vivo
às vezes me vivo prá ver se me palpo.
Só o ventilador dá o ritmo e o som
no tom marrom das coisas de bom tom.
Vida, vida, bela vida
se eu te chamasse querida 
já seria uma rima e não Bandeira
de uma solução.
(quadro de Dali: "Metamorfose")

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Barcelona, a princesa catalã

Além de berço e abrigo de artes e artistas de vulto, Picasso, Dalí, Joan Miró, Ferrer, de abrigar Guëll e seu parque, Gaudi e sua Sagrada Família, Barcelona foi e será a pátria rebelde do diferente. Não do esquisito, do esotérico ou do exótico, do simplesmente diferente. Seu  dialeto, suas ruelas, suas ramblas e a herança visigoda ainda viva.Barcelona, onde a cidade e o cais se misturam, onde iates e veleiros são  vias, onde a cidade é o cais, o cais é a cidade e suas ramblas são cais onde aporta o mundo, abrigam o mundo e suas naves, convés de barcos e gaivotas para calçadas de onde escorrem as pessoas, visitantes e nativos, num jorro de ir e vir, para Colón, Barceloneta, Praça de Catalunya e Montjuic, onde um teleférico sobrevoa Miró, o cemitério judeu e o azul do Mediterrâneo transformado pela noite em escrínio marinho para as jóias da princesa, brilhando forte sob o holofote de mil bares, restaurantes e naves da orla onde gaivotas peroladas lutam com carpas prateadas por banquetes noturnos.

Barcelona à noite multiplica-se em jovens insones, planetários, da China e da Cochinchina, Europa, França e Bahia, Arábias e Bavárias, como um jorro de algum casal primevo, uma Eva multi-multípara, lançando-os em parição miriadítica, a calles e baladas onde pulsa com as luzes um som techno até madrugada, quando a horda adolescente se mistura à procissão adulta, caras e bocas, eles e elas, eles e eles, elas e elas, diferentes, belos e indiferentes.

De qualquer lugar, de qualquer ponto, de qualquer porto e qualquer posto, de convéses ou de ramblas, de ruelas ou de cais, é o mesmo posto de observação de onde em qualquer estação se verá escorrer o magma da humanidade, o que vive, o que trabalha, o que vende e o que compra, o que faz arte ou o que passeia, do cais para Colón, da Plaza para El Corte Inglés, da Fundación Picasso à Fundación Miró, do Parque Guell a Montjuic, das Tapiés à Diagonal, do museu marítimo ao Parque das Aigues, da Catedral ao Parque Güell, da Casa Milá à Sagrada Família, dos jardins de Pedralbes ao grande Aquarium . Centenas de bicicletas disputam espaço com Mercedes e Smarts, com Polos e Ferraris, parando apenas para admirar uma roncante Harley-Davidson 1960, montada por um nórdico que oferece flores a uma americana (ou seria o contrário?).

Barcelona onde a noite e o dia são um só. Onde os irrequietos lêmures de Madagascar convivem com o calmo róseo dos flamingos no Zoo onde um pavão acompanha todos os passos de quem se mostrar amigo, levando-lhe em saltadilhas à estátua do cão sem dono onde se lê uma homenagem do poeta Euras aos viralatas do mundo.

Barcelona, onde se detém a multidão diversa dos privilegiados, a flor d´Europa e os turistas acidentais, mixando dialetos ao seu dialeto bárbaro, onde as luzes, o azul tênue do ar e a variedade colorida de roupas e flores são o epílogo luxuoso de um tempo que não passa e não apodrece, que viça à brisa do Mediterrâneo, sempre noviça, esperando os que não a conhecem e o retorno dos que um dia amaram uma cidade-princesa catalã.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Gestores de referência são rigorosos

Um erro comum é avaliar que reprimir as ocupações ilegais dos espaços públicos gera desgaste para os gestores. Pelo contrário. Os gestores que agiram com rigor nessa área costumam ser os mais reconhecidos pelos eleitores. São os que se transformam em administradores de referência. São os mais respeitados. Uma cidade bem organizada que consegue manter livres e bem cuidados os espaços públicos acaba tornando o seu dirigente um campeão de votos. Comerciantes ilegais, invasores de terrenos, donos de transportes piratas e poluidores não elegem ninguém. É assim em todas as cidades importantes do mundo. Um prefeito que cuida bem dos espaços públicos, mantendo-os limpos, bem iluminados, arborizados e livres da privatização nos dá a certeza de que mantêm com a mesma competência os serviços públicos de educação, saúde e transportes. De volta à “questão social”: ledo engano crer que o comerciante deixará de vender seus produtos. A demanda por eles permanece e a inteligência natural do capitalismo fará com que sejam escoados sem a privatização do bem público. 

Fábio Campos –Jornal O Povo , 21/01/09.

GESTORES DE REFERÊNCIA SÃO RIGOROSOS 

Um erro comum é avaliar que reprimir as ocupações ilegais dos espaços públicos gera desgaste para os gestores. Pelo contrário. Os gestores que agiram com rigor nessa área costumam ser os mais reconhecidos pelos eleitores. São os que se transformam em administradores de referência. São os mais respeitados. Uma cidade bem organizada que consegue manter livres e bem cuidados os espaços públicos acaba tornando o seu dirigente um campeão de votos. Comerciantes ilegais, invasores de terrenos, donos de transportes piratas e poluidores não elegem ninguém. É assim em todas as cidades importantes do mundo. Um prefeito que cuida bem dos espaços públicos, mantendo-os limpos, bem iluminados, arborizados e livres da privatização nos dá a certeza de que mantêm com a mesma competência os serviços públicos de educação, saúde e transportes. De volta à “questão social”: ledo engano crer que o comerciante deixará de vender seus produtos. A demanda por eles permanece e a inteligência natural do capitalismo fará com que sejam escoados sem a privatização do bem público. 

Fábio Campos –Jornal O Povo , 21/01/09.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A simbologia do mito grego de Prometeu

Zeus condena Prometeu a viver acorrentado,com uma águia a lhe roer o fígado todo dia.

Para seu desespero,o órgão torna a se recuperar toda noite, para a tortura do dia seguinte.

Está clara a trinomia histórica, social e econômica das três classes:

O PODER: ZEUS, ilógico e autocrático a legislar e condenar a penas absurdas o cidadão comum.

A ELITE: A ÁGUIA: voa alto, orgulhosa e altaneira, esbelta e elegante e em permanente conchavo com os podres poderes, nutrindo-se do cidadão comum, a se aproveitar dos castigos de Zeus que não lhe atingem, ao contrário, lhe faz de instrumento e beneficiado ao mesmo tempo.

O POVO: PROMETEU: NóS, é claro. Povo, proletários e assalariados, pequenoa burguesia e classe média. Sobretudo a classe média, a do fígado preferido de Zeus e a do fígado mais gostoso para a águia. (O leão também gosta).

Diz a lenda que Zeus só se reconciliou com Prometeu com uma condição: que este lhe revelasse a magia e o segredo de se perpetuar no poder. Ai também o mito do populismo e do iluminismo dos ditadores. (Mas isso já é outra estória) 

Luar sobre Fortaleza

Luar sobre Fortaleza
Praia de Iracema

Lady Godiva

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Info-Arte

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Verso e reverso

Fotopoema

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Nascimento

Fotopoema2

Fotopoema2
Picasso - Guernica

O Sudoku de Ant.Gaudi no portal da Sagrada Família em Barcelona

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Qualquer soma nas colunas, nas linhas ou em X dá 33: a idade de Cristo na cruz!

Pensamento1

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Fanatismo

Dies irae dies ille

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These foolish things

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Tem dias...

Tem dias...
Tem dias!

Wicked game (Kris Izaac)

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Babalu

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Fotopoema

Festival de Natal - Lago Negro - Gramado-RS

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Nativitaten - um espetáculo que se renova e merece ser visto e revisto!